Estórias e Causos do Ipu 5
Por Antônio Tarcízio Aragão (Boris 1940-2009)
Luiz de Paiva Dias e eu, fomos colegas bancários desde os velhos tempos de estudantes em Fortaleza, no final da década de cinquenta, início dos anos sessenta.
Luiz trabalhava no antigo London Bank e eu no Banco Nacional de Minas Gerais. Apesar de trabalharmos dia e noite, nossos salários eram uma micharia e isso impunha uma limitação muito grande em nossos murchos orçamentos de estudantes.
Dificuldades, sacrifícios, época de apertos, porém muito boa e rica em sonhos e ilusões. Tínhamos, como todo jovem sonhador, metas e planos para o futuro, entre tantos, o Banco do Brasil que àquela época era uma excelente opção profissional.
Trabalhando o dia inteiro, estudando à noite, cansaço, alimentação deficiente, não era fácil conciliar mais tempo de estudo para concursos, mesmo assim a agente fazia como podia. Finalmente aprovados em concurso do BB, eu primeiro, ele um ano depois, tivemos a mesma sorte assumindo na agência de Ipu, onde nos aposentamos sem nunca sair do nosso querido torrão.
Mais uma coincidência estaria por vir em nossa vida profissional. Como eu, Luiz também foi nomeado fiscal da Carteira Agrícola do Banco, com uma diferença, eu deixei a fiscalização e Luiz continuou por muitos anos ainda. Como fiscal, a gente viajava muito, em carro próprio, naquele tempo Jeep, para aguentar os péssimos caminhos por onde andávamos, implicando grande consumo de gasolina.
Quando o petróleo entrou em crise mundial, os preços dos derivados subiam descontroladamente e os valores pagos pelo Banco, por quilometragem percorrida não acompanhavam os sucessivos aumentos da gasolina. Luiz Paiva, para não perder dinheiro com aquele desequilíbrio, apelou para a sua genial criatividade, pois, o jeito que tinha era estocar gasolina. Mas como? Precisava vasilhame e o seu custo não era barato.
Luiz teve mais uma brilhante ideia: As feiras do Ipu sempre foram fartas em artesanato de cerâmica, principalmente, potes, tachas e alguidares. Luiz escolheu na feira dos barros os potes maiores que encontrou para resolver o problema.
Comprou algumas unidades e os colocou em fila no fundo do quintal de sua casa, provavelmente expostos ao sol. A cada notícia de aumente de combustíveis, lá estava o Luiz comprando gasolina para guardar.
Cada pote que enchia, amarrava um pano bem grosso na boca e ainda colocava uma tábua com um peso em cima, para proteger melhor o valioso líquido. Enquanto isso, o cheiro ativo da gasolina se espalhava por toda vizinhança. Tamanha foi a surpresa, quando Luiz foi usar o primeiro pote.
Para seu desespero, o impróprio vasilhame estava completamente vazio, só restando o forte cheiro. Logo pensou; “foi ladrão!”, abriu o segundo pote, o terceiro e todos, absolutamente do mesmo jeito. Somente então, Luiz viu a grande besteira que havia feito, a gasolina havia evaporado, frustrando sua estratégia de economia. E o prejuízo?... há!... esse eu garanto que ele jamais esqueceu. Nem esquecerá.
fonte: site da AFAI - ARTIGOS - ESTÓRIAS E CAUSOS p.01 | Acesso:05/01/2010 | Formatação: Airton Soares
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