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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

AFAILCA Crônicas - 25

Data: 04/09/2009
Nome: JOSÉ AIRTON PEREIRA SOARES
E-mail: airton.soares.as@gmail.com
Assunto: AFAILCA Crônicas - 25

Sexta | 04 de agosto de 2009 | 17:14


O DIA DOS MORTOS

Por Antônio Tarcízio Aragão – BORIS [in memoriam]

QUEM DE NÓS NÃO TEM SEPULTADO NO CEMITÉRIO de algum lugar um parente, um ente querido da família, um amigo, um velho conhecido ou até mesmo um simples personagem da nossa infância? Assim é aqui e em qualquer lugar habitado por seres humanos.

NO IPU, O DIA CONSAGRADO AOS MORTOS, o dois de novembro, “Dia de Finados”, começou com intensa movimentação.

ÀS 06 DA MANHÃ UMA MISSA CAMPAL em frente à capela de N.S. do Desterro, no cemitério local, celebrada pelo vigário de Ipu, PE. RAIMUNDO NONATO TIMBÓ, concentrou razoável multidão, vinda de todos os recantos do município e adjacências.

O ENTRA E SAI ERA CONSTANTE e os pequenos grupos concentrados em cada jazigo permitia-nos identificar pessoa que raramente são vistas por aqui, não deixando de ser oportunidade de revermos velhos conhecidos e conterrâneos ausentes.

ENQUANTO PERCORRIA AS ESTREITAS VIELAS, além do pensamento voltado para meus entes queridos, minha mente rebuscava lembranças de vultos populares ali também sepultados. Por instantes, revi muita gente no seu cotidiano normal circulando pelas ruas do Ipu.

VI, POR EXEMPLO, o João Caetana – engraxate “merci”, tomando uma cachacinha na bodega do MANÉ ROCHA; o seu irmão “BODÃO”, já melado, interpelando aos que passavam:

• “CUNHADO, ME DÁ UM CIGARRO”; o “CINCO” (José Pedro) com malas na cabeça rumo à estação; o também chapeado, “ANUM”, pisando na ponta de um pé, com bagagens na cabeça depois da passagem do trem;

• o “MASCÃO” se tremendo e mascando fumo; “ASSIS DOIDO” com as suas maluquices; “DAMIÃO PESÃO”, numa calçada qualquer, imitando o apito do trem e sua cadela Sereia ali fielmente postada;

• a “BAMBA” com sua vasta cabeleira assanhada; o “ZÉ LABRAU” arrancando e cheirando os cabelos; o meu primo “LUIZ LAMPEÃO” atravessando nosso campinho de futebol no quadro da Igrejinha, rumo à casa de seus pais GONÇALINHO Sobrinho e tia MIMOSA;

• o “CHICO MATOS” voltando da missa com os bolsos do seu imenso paletó cheio de missal e outros apetrechos; o velho “CHICO MOUCO” catando caroços de monguba pelas ruas da cidade; o enfermeiro prático PEDRO MELO com sua valise de couro, aplicando injeção em domicílio;

• o velho “TUTU” contando suas mentiras no bar do ZÉ OTÁVIO ao som dos ruídos da roleta do MUNIZ e das bolas das sinucas;

• Sr. CAJÃO, passando pela calçada com o tradicional chapéu de palhas prateado; o Sr. JOÃO MARGARIDA (gerente do Bar Central) cobrando o tempo das sinucas e vendendo os saborosos refrescos e tijolinhos de leite;

• o velho policial “CABO NOBRE” fazendo a ronda com sua apertada túnica caqui que escondia-lhe a imensa barriga;

• o “JARARACA” passando preso por roubo de galinhas; o “RODÓ” ajudando Sr. CANINHA no armazém da “Melo, Pinho & Cia.” (se não me falha a memória) que comercializava algodão e peles silvestres;

• os irmãos prontinhos: JAIME, RIOMAR E MILTON FONTELES (este ainda vivo), recém chegados do Rio de Janeiro com empreendimentos modernos para a cidade, “TRIANON BAR” e “CINE TRIANOM”, o cinema na rua da Guela e o bar na rua Coronel Liberalino, entre o Bar Central e o bar do Lisboa, próximos da loja de ferragens do Sr. JOAQUIM LIMA, da farmácia do Sr. EDGARD e da padaria do Sr. FÉLIX ALVES. Vi muito mais, era tanta gente e tanta coisa, tantos acontecimentos que todo espaço seria minúsculo para narrá-los.

O PENSAMENTO É INCRÍVEL. Fui hoje ao cemitério homenagear meus entes queridos que deixaram nosso convívio e num momento mágico me transpus no tempo. Quando me dei conta, vagava pelo passado, revendo coisas, locais, pessoas, acontecimentos, fatos tristes, outros jocosos, lembranças, enfim, de um mundo distante, armazenado com muito carinho, no fantástico arquivo de um cérebro que a ele um dia também pertencerá.

Fonte: site da AFAI – Artigos – Crônicas, pág. 08
Acesso em 04/09/2009
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