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sábado, 12 de setembro de 2009

AFAILCA Crônicas - 27

Data: 12/09/2009
Nome: JOSÉ AIRTON PEREIRA SOARES
E-mail: airton.soares.as@gmail.com
Assunto: AFAILCA Crônicas - 27

CONVIVÊNCIAS E INFLUÊNCIAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Ti Zé Mouco

Por Júlio Gomes Martins


EM MINHA INFÂNCIA, NO IPÚ, TIVE UMA GRANDE INFLUÊNCIA PARA A LEITURA E CINEMA, COM A CURTA CONVIVÊNCIA COM UM VELHO TIO DE MINHA MÃE.
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COMPLETAMENTE SURDO, morava no sertão com um de seus vários irmãos, por sinal bem aquinhoados, mas isso em nada lhe importava. Nunca procurava ou importunava os irmãos. Quando ia para a feira do Ipú, escolhia ficar lá em casa uns dois ou três dias, talvez pela semelhança com o seu simples habitat. Sua surdez proporcionava episódios muito engraçados, vez que respondia as perguntas de acordo com o ofício que estivesse empregando, quer tangendo os jumentos, dando milho às galinhas ou consertando alguma coisa.

DIZIAM QUE POUCO ESTUDOU, mas lia muito literatura de cordel. Mas só gostava dos romances, como o Pavão Misterioso, entre outros. Ao fim de cada leitura, via-se descer de seus grandes olhos tristes, discretas lágrimas talvez de sonhos, de esperança e de saudade pelo fim daquela história. Hoje entendo bem o que sentia... E era um bom contador de histórias das mil e uma noites.

DOS TIOS DE MINHA MÃE era o que eu mais gostava, primeiro porque pessoalmente só conhecia ele, depois porque me fazia viajar a lugares desconhecidos com suas belas histórias. À noitinha, os mais velhos pediam para que ele contasse uma história e ele dizia com a voz arrastada pela surdez: “rocêeis num cumpreeendi”. E eu, com pouco mais de 6 ou 7 anos dizia: “ eu compreendo, conte”! E talvez pra me agradar, começava pausadamente: “eeera uma veeiz...”.

O PRIMEIRO FILME ao qual assisti foi /// Marcelino Pão e Vinho, /// no ano de 1960, por aí, no cine Dioguinho, em Fortaleza (hoje deve ter uma moderna construção em seu lugar), fiquei maravilhado, com o cinema e aqueles cartazes propagando novos filmes e logo me veio no pensamento, como seria interessante assistir no cinema as histórias do Ti Zé Mouco.

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RETIRAMO-NOS PARA BRASÍLIA e
não me despedi dele da forma que hoje faria,
assim com um forte abraço e um beijo
em sua testa já bem riscada pelo tempo.
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PASSARAM-SE OS ANOS e em cada filme e em cada livro que leio, para mim há uma cena de uma história por ele contada. Quando comecei a ler o Alquimista, do famoso escritor Paulo Coelho, pensei: “faz lembrar as histórias do Ti Zé Mouco”.

HOJE, AS HISTÓRIAS do mundo passam em minha frente nas páginas e nas telas da vida, e vira e mexe me vem sua lembrança. Eu tenho pra mim, que toda criança, principalmente nos dias de hoje, deveria ter um Ti Zé Mouco. Assim, quem sabe, seríamos menos injustos, mais desprendidos e mais sonhadores. Creio que hoje ele está lá no céu contando suas histórias aos anjos, deitado em sua redinha de tucum e OUVINDO os sinos tocarem. “Eeera uma veeiz...”

Fonte: site da AFAI – Artigos – Crônicas, pág. 06.
Acesso: 120909.

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