A história de um povo também é feita de minudências afetivas e verdades comezinhas.

[ Portal do "AS" - esprema AQUI ]

A CADA MEIA HORA UM PENSAMENTO DI RENTE
>

terça-feira, 9 de março de 2010

O Último Baile - Cleide de Melo Lima

O Último Baile

Cleide de Melo Lima

Cidade provinciana
Do interior do Ceará
Mas que toda semana
Acontece a missa, a feira, costumes do lugar
As festas tradicionais
Do santo padroeiro
Para nós, não existem iguais
E é o mês de janeiro!
O clube muito decente
Pela elite era formado
O Grêmio muito atraente
pela sociedade visitado
havia lá o clube de leitura
dos tempos passados, não alcancei
de elegante arquitetura
entrai,conhecei!
Lustres luminosos pendurados
Os janelões verdes,balaústres edificados
O piso assoalhado
De madressilvas, o caramanchão
Muito bem cuidado
O quadro social, uma perfeição!
Completando a decoração
Quadros imponentes
Lembro-me de um com emoção
A valsa do Imperador, que minha amiga dizia:sou eu aquela junto aos mais indiferentes
Bailes tradicionais ocorriam
Em janeiro dias 20 e 21 aconteciam
Depois da quaresma,domingo da ressurreição
Em junho, quadrilhas e o chitão!
Agosto o 26, do Ipu, a emancipação
Outubro, dia 12 festejam no Grêmio a sua fundação
Natal e Ano Novo, com estilo e bem perfeito!
Senhoras de respeito
Zelosas acompanhavam os filhos

Os chefes de família primando pelo direito
Contribuíam, para dar-lhe brilhos!
Jovens vaidosas
Muito elegantes
Bailavam orgulhosas
Com seus requebros dançantes!
O afoito que quisesse brigar
Pelos Diretores eram convidados a se retirar
Era assim o clube do Ipu,uma bandeira
Lá só penetrava em seu recinto, quem fosse da primeira...
No poder aquisitivo?
Era um distintivo
No procedimento?
Outro complemento
Ainda bem...
De família, sangue nobre?
Que no Brasil é muito pobre...
Também.
Clube social do meu pai, da minha mãe,
de sua mocidade
O grêmio de nossa saudade!
Bailes memoráveis
Das dez da noites às seis da manhã
Do mambo ao pisa na fulô inolvidáveis
E quando tudo terminava
Ficava
Agridoce lembrança de uma saudade sã!
Bailes selecionados
Sócios escolhidos
Organizados
Festa no Grêmio,tudo engalanado
E muito concorrido, freqüentado.
Do tempo das orquestras
Ou dos conjuntos musicais
Grandes e bonitas festas
Que não esquecemos jamais!
Hoje, eu soube agora
O Grêmio venderam
Na época das privatizações,sem demora
Os sonhos morreram...
Onde a memória?
A história?
Desceram
Na enxurrada
Da virada
Do século XX
É uma acinte
A tradição
Aos antepassados desse meu chão!
Aos homens sérios, os fundadores
aqueles senhores
Que fizeram parte do surgimento
Do nascimento
Deste lugar...
Silêncio! Estou a escutar!
Abrem-se cortinas sedosas
Adamascadas e vaporosas...
Olha, o Grêmio está aberto
Escancarado, ninguém por perto...
Os salões cheios de luminosidades
De neônios incandescentes
A Valsa do Imperador e outros quadros decoram o ambiente...
Vejo penetrar de repente
Aquelas senhoras que vi outrora
Minha mãe também, acompanhando a gente
Olha a música, está tocando
Vibrante, animada, sonora
Quem está comandando, o que ouço agora?
É o último baile do Clube de nossa mocidade
Voltamos no tempo, todos com pouca idade...
Mas, foi ilusão, se perdeu no ar
Foi toque de magia
Todos foram embora, não vão dançar
A música se desfez na miragem fugidia
O que eu quis ouvir
Do Grêmio, as portas serraram
Fecharam
Para nunca mais se abrir

Ipu, 19 de setembro de l988

afai-artigo-poesia p 14

Nenhum comentário:

Postar um comentário