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sábado, 27 de março de 2010

Uma discussão sobre a "Civilização" da sociedade ipuense

.

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH

Revista Homem, Espaço e Tempo Setembro de 2008 ISSN 1982-3800

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DO BACAMARTE AO LIVRO: UMA DISCUSSÃO SOBRE A “CIVILIZAÇÃO”

DA SOCIEDADE IPUENSE – 1840-19191

Jorge Luiz Ferreira Lima2

Gleison da Costa Monteiro3


RESUMO

Este artigo discute a maneira como a cidade de Ipu, outrora marcada por acontecimentos

violentos, passou por um processo de transformações culturais onde se procura, através da

ação de um grupo de intelectuais, implantar na cidade novas práticas de sociabilidade

urbana, como a criação de um Gabinete de Leitura.

Palavras-chave: cultura letrada, civilização, intelectual, gabinete de leitura.

SUMMARY

This article discusses the way as the city of Ipu, formerly marked by violent events, it

went by a process of cultural transformations where it is sought, through the action of a

group of intellectuals, to implant in the city new practices of urban sociability, as the

creation of a Cabinet of Reading.

Word-Key: literate culture, civilization, intellectual, Office of reading.

INTRODUÇÃO

Resulta sempre inquietante a possibilidade de refletir sobre a forma como a

Vila do Ipu, acossada por bandos armados, marcada por episódios violentos, foi se

transformando, culturalmente, em uma cidade onde se verificava a presença de práticas de

sociabilidade urbana ligadas ao domínio da cultura letrada. No entendimento dos

intelectuais ipuenses do começo do século XX, enquanto duraram as lutas e os bandos

armados correram livremente pelo sertão e Serra da Ibiapaba, a população do Ipu se viu

1 Trabalho resultante da ampliação das reflexões acerca das transformações culturais ocorridas na cidade de

Ipu entre a segunda metade do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX, presentes no primeiro

capítulo da monografia Livros, homens, uma cidade: uma discussão sobre o Gabinete de Leitura Ipuense

(1886-1919).

2 Graduado em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA

3 Professor Assistente (orientador) – Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA

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impossibilitada de ensaiar os primeiros passos no mundo das letras. Leitura, reuniões

literárias, imprensa, tudo era ausente; reinava a desordem e o acanhamento cultural.

Na segunda metade do século XIX, surgem os primeiros intelectuais e as

primeiras iniciativas – tímidas e mirradas – de estabelecer práticas culturais ligadas à

cultura letrada. Percorrendo os jornais da primeira metade do século XX, percebemos a

existência de um grupo social diminuto, mas consciente de sua condição privilegiada de

letrados. Faziam, portanto, porta-vozes dos interesses que diziam ser da cidade, mas que,

no fundo, representavam seus interesses próprios enquanto classe separada, enquanto

inteligentsia local em busca de demarcar seu território social e garantir seus privilégios.

A passagem de uma vila sacudida pelos arrebatamentos violentos dos

valentões da região, durante a primeira metade do século XIX, à cidade em busca de

progresso e civilização é o que discutiremos neste trabalho.

1 QUANDO TUDO SE RESOLVIA PELA “LEI DO BACAMARTE”

Em 1915, a Revista do Instituto do Ceará trouxe a público um trabalho

composto por Eusébio de Sousa chamado Um pouco de história: Chronica do Ipu. Em seu

texto, Eusébio procurou reconstruir a história da cidade de Ipu remontando à fundação,

fato que atribui a uma matrona branca – D. Joana de Paula Vieira Mimosa – a quem teria

sido doada a porção de terra situada às margens do Riacho Ipuçaba, no sopé da Serra da

Ibiapaba.4

Em seu descortinamento da história ipuense, Eusébio reconstitui vários

acontecimentos concentrando sua atenção, ao referir-se ao século XIX, em fatos

considerados nefastos para história da então pequena vila do sertão cearense. Tais fatos

fazem parte do imenso repertório de lutas violentas que assolaram, segundo os cronistas, o

sertão do Vale do Acaraú e a Serra da Ibiapaba. Bandos armados chefiados por coronéis se

digladiaram em sangrentas lutas de família, lutas cujo motivo ia desde o defloramento e

4 Cf. SOUSA, Eusébio de. Um pouco de história: chronica do Ipu. In: Revista do Instituto do Ceará.

Fortaleza, tomo XXIX, p. 152-243, ano 1915.

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rapto de donzelas até animosidades de natureza política. Em suma, como se dizia à época,

tudo se resolvia pela “lei do bacamarte”.

Dentre os autores e obras que se referem aos ditos episódios violentos,

materializados em épicas brigas entre os grandes clãs patriarcais estabelecidos na região

norte do Ceará, chegou-nos às mãos o livro de Nertan Macedo, O Bacamarte dos

Mourões. Ali são relatadas inúmeras façanhas da poderosa e ousada família Mourão, cuja

principal propriedade fundiária, uma espécie de feudo fora de época, compreendia parte da

região do atual município de Ipueiras, mais precisamente a porção serrana deste

município, no lugarejo conhecido, à época, como Matriz de São Gonçalo da Serra dos

Cocos5.

No ano de 1840, o Ipu passou à condição de sede da Vila Nova d’El Rey,

condição que antes pertenceu o povoado do Campo Grande, atual cidade de Guaraciaba do

Norte6. Na realidade, Ipu compunha-se de um ajuntamento desconexo de casinhas de

taipa, sendo as melhores edificações dispostas em volta da pequena igreja, situada em

praça próxima às margens do Riacho Ipuçaba. A população, em sua maioria composta de

pobres e mestiços, vivia em constante sobressalto por causa das constantes correrias dos

bandos de cabras armados cujas façanhas violentas eram fruto do mando dos coronéis

proprietários da região.

Elevado à categoria de vila, o Ipu não deixou, contudo, de ser alvo da índole

violenta da época. Na realidade, o episódio mais sangrento e de mais nefastas

conseqüências ainda estava por vir.

Completando o rosário de antecedentes deste fato, chegou ao Ipu, em 1845, o

padre Francisco Corrêa de Carvalho e Silva, vigário da Freguesia de São Gonçalo da Serra

dos Cocos, da qual a pequena igreja de Ipu era capela. Deveria o reverendo vigário residir

no povoado onde estava o templo designado para matriz da Freguesia, mas, como este

estava localizado no povoado da Matriz de São Gonçalo, sobre a Serra da Ibiapaba, reduto

da poderosa família Mourão, o padre teve que evadir-se de lá. O motivo: indisposições de

5 Cf. MACEDO, Nertan. O Bacamarte dos Mourões (2ª ed). Rio de Janeiro: Editora Rennes, 1980.

6 Cf. ARAÚJO, Pe Francisco Sadoc de. História Religiosa de Guaraciaba do Norte. Fortaleza: Imprensa

Oficial do Ceará, 1988; e MELLO, Maria Valdemira Coelho. O Ipu em três épocas. Fortaleza: Popular

Editora, 1985.

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natureza política entre o senhor vigário e os poderosos mandatários da Matriz, os

Mourões.

O Padre Corrêa, segundo Joaquim Catunda, seu mais incendiário biógrafo7,

tinha uma postura política verdadeiramente camaleônica. Mudava de partido como se

muda de roupa. Ora apoiava os liberais, ora os conservadores. Numa de suas “viradas de

casaca”, o padre, residindo na Matriz de São Gonçalo, abandonou as fileiras

conservadoras e passou para o lado dos liberais, arrastando consigo parte da família Melo,

prima em primeiro grau dos Mourões. Sabendo que atraíra a ira dos valentões da Matriz de

São Gonçalo, a padre fugiu para o Ipu, aonde veio colocar-se sob a proteção do coronel

Francisco Paulino Galvão e do delegado Manuel Ribeiro Melo.

Hábil na montagem de futricas políticas, o padre teria, ainda de acordo com

Joaquim Catunda, incitado o delegado a prender, sem motivo aparente, os correligionários

políticos dos Mourões no Ipu, fato que ateou ainda mais lenha na fumarenta fogueira da

ira dos valentões da Serra dos Cocos.

O resultado não poderia ser outro. A noite do dia 25 de janeiro de 1846 foi

marcada pelos gritos, tiros e mortes, constituindo um episódio macabro e traumatizante

para a memória ipuense. Os irmãos Alexandre da Silva Mourão e José de Barros Mourão,

acompanhados de forte séquito de cabras armados, atacaram a pequena e tosca edificação

que servia de cadeia à Vila Nova do Ipu. Entre os disparos, um houve que acertou o peito

de José de Barros Mourão, morrendo este nas calçadas da igreja de São Sebastião do Ipu.

O bando tinha três objetivos: libertar os correligionários presos, matar o delegado Manoel

Ribeiro Melo e matar o padre Corrêa.

Do ponto de vista dos Mourões, a façanha terminou em desastre. Não

conseguiram encontrar o delegado, não mataram o padre e perderam seu segundo homem

valente, o Capitão José de Barros Mourão, apelidado de “O Cabano”, por sua atuação no

7 Joaquim Catunda publicou, em 1871, uma ácida biografia do padre Corrêa, onde denunciava os vários

desmandos cometidos pelo vigário. Catunda foi senador pela Província do Ceará, assim como o padre

Corrêa. Residindo na vila do Ipu durante a década de 1870, indispôs-se com o vigário, provavelmente, por

motivos ligados às complicadas injunções políticas da época. Sua Biografia do Reverendo Padre Corrêa –

Vigário do Ipu foi republicada por Nertan Macedo no citado O Bacamarte dos Mourões.

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combate os rebeldes da Cabanagem que se espalharam pelo Piauí e porção da região norte

do Ceará8.

O fato ganhou os jornais da capital cearense. O jornal conservador Pedro II9¸

assim se referiu ao estado de coisas que se podia verificar na vila após o ataque:

Eis o estado a que de presente esta reduzido o Municipio do Ipu: o seu futuro

parece prenhe de funestos, e ainda mais atrozes sucessos: se o Govêrno não for

enérgico, enviando quanto antes para ali uma boa fôrça, e à disposição do Chefe

de Polícia que para lá deve seguir, porém, o Governo... e temos governo... basta.

Em outro no daremos uma notícia mais circunstanciada desses acontecimentos.”10

Diante de tão graves fatos, o jornal anuncia para a vila um futuro “prenhe de

funestos”, ou seja, diante de tão negros e calamitosos acontecimentos, o que se poderia

esperar de uma povoação cujos habitantes se mostravam dispostos a cometer atos

considerados contrários à civilização e ao progresso?

Eusébio de Sousa, por sua vez, também não se furtou à oportunidade de

lamentar tal fato e associar a um preocupante estado da barbárie o estouro de tão violentos

episódios. Referindo-se à primeira metade do século XIX e às lutas violentas ali ocorridas,

Eusébio afirma tratar-se de uma época “estacionaria de formação litteraria ipuense. O

tempo mal chegava para os sobresaltos continuos de sua população”11

Dessa forma, para Eusébio de Sousa, bem como para os demais homens de

letras do início do século XX, aquele estágio de “barbárie” compreendido pela primeira

metade do século XIX só pôde ser superado com o surgimento das primeiras

manifestações culturais ligadas ao domínio da cultura letrada. O surgimento do primeiro

grupo de teatro da vila, por volta de 1870, é celebrado por Eusébio de Sousa como os

primeiros passos” da vida intelectual da vila.

2 CIVILIZAÇÃO E CULTURA LETRADA

8 Cf. MACEDO, Nertan. Op. Cit.

9 Sabemos da orientação conservadora do jornal Pedro II graças à leitura de FERNANDES, Ana Carla

Sabino. A imprensa em pauta: jornais Pedro II, Cearense e Constituição. Fortaleza: Secretaria de Cultura do

Estado do Ceará, 2006.

10 Jornal Pedro II, 7 de fevereiro de 1846 apud MACEDO, Nertan. op cit p 115.

11 Cf. SOUSA, Eusébio. Op. cit. p 221.

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As lutas e sobressaltos constantes agora estavam ausentes, o que permitia à vila

o surgimento das primeiras manifestações intelectuais e a reunião de um primeiro grupo

de indivíduos que constituem, segundo a descrição do autor, uma espécie de inteligentsia

local, ou seja, um grupo social que procura diferenciar-se do restante da população

especialmente pela posse e domínio das técnicas inerentes ao domínio da cultura letrada.

Diferenciados em relação ao restante da população da vila, tratam ainda de

chamar a si a responsabilidade de representar, em seu discurso e em suas práticas, o elo

progressista da sociedade ipuense. Desta forma, daquele intelectualismo embrionário

brotaram nomes que buscarão destaque na imprensa, na literatura e na política, e

requisitaram uma espécie de direito de mando cuja legitimidade basear-se-ia na posse de

bens materiais e no domínio de vasto cabedal cultural.

A formação de um grupo de atores amadores, reunidos em torno da sociedade

Recreio Dramatico, denuncia a primeira iniciativa social ligada à cultura letrada,

prenuncia a surgimento e desenvolvimento de uma nova sociabilidade relacionada ao

desenvolvimento urbano da vila.

Dos líderes desse primeiro e pequeno grupo de jovens cultos, temos a figura do

Thomaz de Aquino Corrêa, então adolescente, aliado a Félix Candido de Sousa Carvalho.

O primeiro viria a tornar-se o Coronel Thomaz Corrêa, farmacêutico, músico, jornalista,

poeta e agricultor bem sucedido, tudo graças ao seu talento de autodidata12; o segundo

migrou em busca de estudos e acabou bacharelando-se em Direito tendo, em 1920, sido

indicado para a Secretaria do Interior pelo então presidente do estado, Dr. Justiniano de

Serpa13.

A cidade é o lugar par excelence da cultura letrada. Teatros, agremiações

literárias, saraus, publicação de jornais, constituição de instituições voltadas para a prática

da leitura, tudo isso remete, sem embargo, ao espaço urbano. Urbanidade e civilidade,

progresso e civilização, são conceitos que caminham juntos e formam a equação cujo

12 Cf. GRÊMIO IPUENSE. Thomaz Corrêa: alguns aspectos de sua vida e de sua obra. Fortaleza: Tipografia

Minerva de Assis Bezerra & Cia, 1942; e PAZ, Francisco das Chagas. Almanaque Ipuense para o ano de

1961. Ipu: Oficinas Gráficas da Escola Profissional, 1960.

13 Cf. Desembargador Felix Candido. Correio do Norte, Ipu, 15 jul. 1920, p. 4.

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resultado é o tão almejado e festejado progresso material e espiritual que deveria,

fatalmente, atingir a vila.

A adoção de um conceito de “civilização” associado à transformação dos

padrões comportamentais, ao refinamento das maneiras e à educação à moda européia

pode ser percebida facilmente nos textos publicados nos jornais ipuenses do início do

século XX. O esforço por transformar a vila bárbara em uma cidade civilizada serve de

corolário ao discurso construído na imprensa ipuense, onde seus homens de letras militam

em defesa do progresso e da civilização.

Voltando a século XIX, após a fundação e rápido declínio do Recreio

Dramátrico, o mesmo grupo de jovens letrados, liderados pelo jovem Thomaz de Aquino

Corrêa, criou a sociedade Gabinete Ipuense de Leitura, cujo propósito confesso consistia

em proporcionar o acesso à leitura a uma população que se queria civilizar.

Entendido como um signo do progresso, o gabinete de leitura funciona como

local de reunião, de sociabilidade e de fruição intelectual, tornando-se um símbolo do

esforço civilizador empreendido pela inteligentsia local. O esforço em difundir o

letramento pode ser percebido na fundação da escola noturna, ou seja, um curso de

alfabetização ministrado pelos próprios sócios do gabinete no período noturno.

Destinavam-se as aulas aos analfabetos pobres. Esta iniciativa, todavia, não tardou a ser

descontinuada.

Temos, assim, a partir da segunda metade do século XIX, o início de um

possível “processo civilizador” levado a efeito na vila e, mais tarde, cidade do Ipu.

Iniciado com o surgimento da primeira manifestação ligada à cultura letrada, este processo

compreende a criação de espaços e instituições destinados à difusão de práticas e modos

de comportamento ligados à moda européia, em especial aos padrões culturais franceses,

muito em voga no Brasil do final do século XIX.

Para Norbert Elias, “civilização” seria o termo através do qual a sociedade

ocidental “procura descrever o que lhe constitui o caráter especial e aquilo de que se

orgulha: o nível de sua tecnologia, a natureza de suas maneiras, o desenvolvimento de sua

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cultura científica ou visão do mundo, e muito mais.”14 A civilização seria, dessa forma,

resultado de um processo - o “processo civilizador” - de mudanças comportamentais

caracterizadas pelo aumento do controle sobre as punções, da mudança na forma como

eram realizados atos cotidianos relacionados ao corpo, como escarrar, assoar-se, dormir,

pôr-se à mesa, etc. Este processo seria ainda marcado por “curvas”, ou seja, as mudanças

oscilavam, ora para frente, num sentido que o autor classifica como evolutivo, ora

retroagindo a formas mais antigas. No entanto, este processo, de acordo com Elias,

caminha no sentido evolutivo e seu resultado seria o que o Ocidente chama de

civilização”.

Na esteira de Elias, podemos perceber o esforço de um grupo que se apresenta

como portador dos meios de civilização, ou seja, que defende como ideal de

comportamento e de cultura aquilo que caracteriza o seu comportamento, a sua cultura, ou

seja, de um grupo que procura estender sua influência sobre o restante da população,

através da difusão de padrões comportamentais compreendidos como mais adequados a

uma cidade que deveria preparar-se para a chegada iminente do progresso.

No bojo deste “processo”, a difusão das práticas de leitura constitui parte

indissociável da civilização que se pretende estabelecer na cidade. Somente uma

população esclarecida e informada por meio da leitura poderia levar a cidade ao progresso,

compreendido de forma, no mínimo, paradoxal. Mais ainda, somente uma população cujo

comportamento fosse refinado o suficiente para compreenderem o valor da apreciação de

um bom livro estaria realmente capacitada a protagonizar o desenvolvimento progressista

da cidade.

Quando falam de “progresso”, os intelectuais ipuenses não se referem ao

fenômeno contraditório, excludente e cruel, gerador de pobreza e dura exploração, típico

da Segunda Revolução Industrial tão facilmente constatável na realidade européia do

século XIX. Pensava, ao contrário, no estabelecimento da uma ordem social baseada no

tradicionalismo e conservadorismo caracterizado pela manutenção dos privilégios e do

poder de mando de um pequeno grupo cuja riqueza baseava-se na propriedade da terra.

Lembremos ainda que, na segunda metade do século XIX e primeiras décadas do século

14 Cf. ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

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XX, a principal atividade econômica da vila do Ipu, bem como de toda a região norte do

Ceará, ainda era a produção agrícola, figurando como principal produto o algodão. Neste

contexto, a posse da terra constitui, sem dúvida, um distintivo social muito importante.

O progresso deplorado por poetas como Baudelaire15 e outros autores do

século XIX não era o mesmo que se apresentava revestido de ares de redenção nas páginas

dos jornais ipuenses. Para Thomaz Corrêa e seus amigos, o progresso caracterizava-se

pelo aumento da riqueza material acompanhado da reafirmação dos valores morais típicos

da Cristandade, ou seja, o aumento da riqueza desde que esta permanecesse sob controle

de uma aristocracia católica e conservadora, cujo comportamento irrepreensível alinharse-

ia com o mais duro moralismo.

Facetas daquilo que historicamente conhecemos como “progresso”, ou seja, as

nefastas conseqüências sociais das duras relações de trabalho típicas da industrialização, a

proliferação de males sociais como a violência e a prostituição, não fazem parte do

progresso que se sonha para a cidade de Ipu no final do século XIX e início do XX. Ao

contrário, pensava-se no aformoseamento do espaço urbano, na constituição de posturas

municipais, na difusão da alfabetização e da leitura, no aumento da riqueza aristocrática e

na imposição de padrões de comportamento austeros, cristãos, ascéticos.

Para a inteligentsia ipuense, o progresso será resultado do saneamento social,

implicando isto na exclusão de grupos e comportamentos considerados desviantes. Não é

sem razão, portanto, que o jornal Correio do Norte festeja a decisão do delegado de

polícia, o tenente Raymundo Pinheiro, a qual consistiu em proibir a circulação das

prostitutas dentro do Mercado Público. Não por acaso, a nota recebeu o título “Digno de

aplausos”. Isto foi publicado em 12 de fevereiro de 1920.16

Dois anos depois, o mesmo jornal implora ao então delegado providências no

sentido de “proibir a grande imundice de mulheres livres” que circulavam impunemente

1994, vol I, p 23. Itálico do autor.

15 A postura crítica de Bauldelaire a respeito do progresso e todas as suas contradições pode ser melhor

conhecida a partir da leitura de BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas III: Charles Baudelaire, um lírico no

auge do capitalismo. Tradutores: José Martins Barbosa, Hemerson Alves Baptista. São Paulo: Brasiliense,

1989.

16 Cf. Digno de aplausos. Correio do Norte, Ipu, 12 fev. 1920, p. 1.

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pelo Mercado, “a se expandirem com gestos e palavreados indecentes”17. Meninos de rua

também são alvos de reclamações junto à autoridade policial, pois estes andavam “n’uma

algazarra infernal, furtando, interrompendo os transeuntes, atirando pedras, jogando football,

etc.” A solução sugerida é a “prisão de uns quatro para exemplo”18.

A presença de figuras indesejáveis como prostitutas e meninos de rua

contrastava terrivelmente com o ideal de uma cidade civilizada. O comportamento destes

grupos era considerado por demais invasivo e escandaloso, perturbador da serena ordem

civilizada, afrontador da ordem e um estorvo ao progresso e não um resultado perverso do

mesmo. Para estes não era oferecida, com certeza, a possibilidade do acesso à prática da

leitura.

Por outro lado, outro grupo social, hegemônico nas páginas dos jornais,

organizava-se em torno de agremiações voltadas para a sociabilidade urbana da época.

Times de futebol, gabinete de leitura e grêmio recreativo constituem os pólos de atração de

um grupo de homens detentores da riqueza local, da posse da terra, do capital e, acima de

tudo, da influência política e social sobre uma população ainda pobre e analfabeta.

Reuniões literárias no salão do Gabinete de Leitura Ipuense serviam de palco

para discussões acerca da legitimidade da carta de bacharel de algum dos membros da

pretensa inteligentsia local. Intrigas e fofocas que, não raro, acabavam em sérias e

virulentas polêmicas nas páginas do jornal eram motivadas por ferinos ataques à vaidade

intelectual de algum membro do grupo de letrados locais. Esta espécie de antropofagia

servia, no entanto, para afirmar ainda mais o status quo de um grupo que se queria fazer

ver como os mais capazes ao exercício do mando e à posse da riqueza.

Em 1894, a cidade de Ipu teve inaugurada a sua Estação da Estrada de Ferro de

Sobral. Tal fato revela-se, dentro das dimensões de uma pequena cidade do interior do

Ceará na virada do final dos oitocentos, como um marco no processo civilizador –

tomando o conceito de Elias - da sociedade local.

Com a chegada dos trens, Ipu tornou-se, por certo tempo, o ponto final dos

trilhos da Estrada de Ferro de Sobral, aumentando, assim, a afluência de elementos

17 Cf. Com a policia. Correio do Norte, Ipu, 06 jul. 1922, p. 4.

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estrangeiros ao pequeno núcleo urbano. Naquele pé de serra surgiu e desenvolveu-se uma

estrutura de serviços como hotel, cafés, bilhares, casas comerciais, etc. Com o

prosseguimento da construção da ferrovia, Ipu tornou um importante entreposto na rota

dos trens cujo trajeto ligava o Porto de Camocim ao Piauí.

A inteligentsia ipuense do começo do século XX, já mais consciente e

confiante de seu papel social e cultural, agarrou-se com unhas e dentes à sua prerrogativa

civilizadora e progressista. Para tanto, adotaram uma postura bairrista a ponto de

duelarem, através da imprensa, com a principal cidade da região: Sobral.

Um dos impasses mais ferrenhos deu-se por ocasião da proposta feita pelos

sobralenses ao engenheiro-chefe da Estrada de Ferro de Sobral para que o pernoite dos

trens de Camocim fosse feito em Sobral, e não mais em Ipu. Contrastando artigo d’A

Lucta, o Correio do Norte nega com veemência a dependência comercial de Ipu em

relação a Sobral, alegada pelo primeiro como justificativa ao pedido feito ao engenheiro19.

Ora, o pernoite dos trens implicava no pernoite de boa parte de seus

passageiros, os quais usufruíam (e pagavam) dos serviços oferecidos pela cidade de Ipu.

Não raro, autoridades políticas eram “forçadas” a pernoitar em Ipu, servindo para tanto a

hospitalidade suspeitamente desinteressada dos aristocratas locais. Havia ainda na cidade o

hotel Rendez vous des amis, refinado estabelecimento de hospedagem que servia de palco

aos suntuosos jantares em homenagem aos visitantes ilustres, especialmente autoridades

políticas.

Pouco mais de um ano depois, e apesar das contraditas dos ipuenses, o pernoite

dos trens foi transferido para a cidade de Sobral20. Restou aos redatores do Correio do

Norte apenas deplorar tal idéia, demonstrando que não se rendiam ante a superioridade da

vizinha cidade da zona norte.

O texto de Eusébio de Sousa, como já dissemos, foi publicado em 1915, o que

sugere ter a sua escrita ocorrido alguns anos antes, provavelmente logo que este assumiu o

cargo de Juiz da Comarca do Ipu.

18 Cf. Idem.

19 Cf. E esta agora!...Correio do Norte, Ipu, 13 jan. 1922, p. 2.

20 Cf. E. F. de Sobral. Correio do Norte, Ipu, 08 fev. 1923, p. 1.

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Por outro lado, justamente em 1914, enquanto Eusébio – é o que supomos –

escrevia sua chronica, a cidade de Ipu e, mais especificamente, a cadeia, foi alvo de

violento ataque da parte do bando de cabras chefiados pelo Coronel João Martins da

Jaçanã. Assim, pouco menos de setenta anos depois, a cidade era novamente sobressaltada

por acontecimentos violentos.

O relato deste episódio encontramos no livro O coronel João Martins da

Jaçanã, escrito por Francisco Magalhães Martins21. Segundo o autor, teriam sido

mandados ao Ipu policiais jagunços oriundos das hostes da Sedição de Juazeiro, a qual

resultou na queda do presidente Franco Rabelo e na intervenção do General Setembrino de

Carvalho. Agindo sob livre arbítrio e movidos pela sensação de poder despertada pelo uso

da farda, os soldados, logo que chegaram ao Ipu, iniciaram uma farta distribuição de

pancadas que iam recair sobre os lombos de quem quer que lhes molestasse da forma mais

leve. Neste festival de arbitrariedades e abusos, brindaram com vários golpes de sabre o

jovem vereador Osório Martins, sobrinho do valente coronel João Martins da Jaçanã.

De seu refúgio na verdejante fazenda Jaçanã, o coronel, logo que tomou

conhecimento da agressão dispensada ao sobrinho, pôs em marcha seu séquito de cabras

armados e fincou esporas no cavalo rumo ao Ipu. No dia seguinte, pelas cinco da manhã,

João Martins e seu bando penetravam a cidade saudando os soldados/jagunços com

formidável saraivada de balas. Encurralados na Casa de Câmara e Cadeia, os soldados não

tiveram alternativa a não ser tentar resistir até onde pudessem diante do implacável ataque

que sofriam. A tragédia só não alcançou maiores proporções graças à intervenção do

deputado Abílio Martins, o qual mediou negociações entre o coronel e os soldados,

conseguindo o cessar fogo.

Sem dúvida, tal fato constitui uma incômoda interrupção na marcha da cidade

rumo à civilização. No entanto, a inteligentsia local não recuou e novas iniciativas

culturais foram levadas a efeito. Jornais já existiam desde a década de 80 de século XIX,

embora tivessem, invariavelmente, vida efêmera. O Gabinete de Leitura foi reativado sob

nova sociedade em 1º de janeiro de 1919. Um ano antes começara a circular o Correio do

21Cf. MARTINS, Francisco Magalhães. O coronel João Martins da Jaçanã. Fortaleza: Henriqueta Galeno,

1977.

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Norte. Outros jornais, como a Gazeta do Sertão, já haviam sido publicados na cidade sob a

direção de homens de letras cujo talento era reconhecido em todo o estado.

Entre estes devotos do livro e da imprensa estavam o folclorista Leonardo

Mota, o Cel Thomaz Corrêa, o jornalista Herculano José Rodrigues, Júlio Cícero

Monteiro, Aderson Magalhães, o deputado Abílio Martins, o engenheiro francês Leonard

Martin, o advogado Augusto Passos e José Oswaldo de Araújo.

Este grupo, por sua postura em relação ao restante da população, por seu

esforço no sentido de empreender um projeto civilizador, por se arvorar em ares de

defensores do progresso local, constitui, sem dúvida, a inteligentsia ipuense no começo do

século XX. Sem embargo, este grupo monopoliza o arrebanhamento dos indivíduos que se

mostravam sensíveis à atração exercida pelas letras.

Constituem, por outro lado, o estreito círculo dos leitores presentes na cidade.

A julgar pelo acervo do Gabinete de Leitura Ipuense, constatamos o gosto pela leitura dos

clássicos da literatura francesa do século XIX, livros científicos voltados para o Direito,

Medicina, Psicologia, além de vasta de gama de coletâneas de poesias onde figuram

nomes como Alfred Musset, romances de Alexandre Herculano e coleções de História

Geral e do Brasil, destacando-se autores como Rocha Pombo.

Enfileirados nas estantes do Gabinete de Leitura, estes livros representam mais

que a presença da leitura; representam o esforço de manter um padrão cultural e

comportamental adquirido em praças mais civilizadas, como Recife ou Rio de Janeiro, e o

esforço por alinhar-se ao padrão parisiense, onde os cabinets litteráires haviam feito

grande sucesso entre os séculos XVIII e XIX22. Representam também o avanço do

processo de civilização pretendido pelo grupo seleto de leitores/jornalista/escritores.

CONCLUSÃO

22 Sobre os cabinets litteráires, ver CHARTIER, Roger. Leituras e leitores na França do Antigo Regime.

São Paulo: Editora UNESP, 2004; e DARNTON, Robert. A filosofia por baixo do pano. In: Revolução

Impressa: a imprensa na França, 1775-1800. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996, pp 49-

75.

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Em suma, o que se queria pensar era que já andava longe o tempo em que as armas

davam o tom na resolução dos conflitos, como acontecia na antiga vila, antecessora da

cidade que agora se apresentava dotada de adornos sofisticados, como um acervo de livros

reunidos num gabinete de leitura. No entanto, episódios recentes como o do Coronel João

Martins da Jaçanã não permitiam a cristalização dessa idéia da superação da fase de

barbárie” na evolução da sociedade ipuense.

Desta forma, tomando como base a tese de Norbert Elias, o ataque à cadeia

protagonizado pelo Coronel João Martins da Jaçanã representa uma “curva”, ou um

retrocesso no processo civilizador da sociedade ipuense. No entanto, este movimento em

sentido retroativo não dura muito tempo, e a tendência evolutiva se restabelece.

A fundação do Gabinete de Leitura Ipuense, sociedade que reuniu intelectuais

locais como Abílio Martins, Joaquim Lima, Edgard Corrêa – filho de Thomaz Corrêa –

Abdoral Timbó e Francisco das Chagas Pinto da Silveira, representa um esforço no

sentido de reforçar o comportamento orientado para a prática da leitura, acompanhada de

todo um conjunto de práticas de sociabilidade típicas da cultura urbana.

No entanto, o futuro traria mais uma “curva”. O Gabinete de Leitura Ipuense, a

julgar pelos artigos veiculados no Correio do Norte, não conseguiu lograr o êxito

esperado. A década de 20 do século passado assistiu a um definhamento da inteligentsia

local, sendo suas práticas também suprimidas.

Por outro lado, a cidade em vias de progresso do final do século XIX e duas

primeiras décadas do XX foi, aos poucos, perdendo seus homens de letras e a

sociabilidade típica da cultura letrada urbana, como as reuniões no Gabinete de Leitura, foi

deixando de existir. Novas práticas estariam a caminho, e o glamour que se quis para o

Gabinete de Leitura não se verificou.

No entanto, os sucessos que marcam esta nova fase da história cultural do Ipu,

marcada pela decadência das práticas e instituições criadas dentro do recorte temporal de

que nos ocupamos, constituem objeto para outro trabalho que não este.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Manuela Galhardo. Lisboa: Difel, 2002.

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Paulo: Editora UNESP, 2004.

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