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terça-feira, 9 de março de 2010

Noite Turva em Ipu

Noite Turva em Ipu

Tobias Marques Sampaio
Silenciosa segue a noite
Enquanto a saudade bate;
Os caminhos encurtam-se
E se alongam;
Becos e vielas se confundem
De onde se vê o Cristo,
A bica
E o paredão de pedras.
O firmamento escuro
Promete alagar ruas e praças;
A sombra das árvores
Ou dos prédios tesos
Esperam com o abrigo,
Mas nenhuma viva alma
Circula por sobre o calçamento de pedras toscas.
A viola e o seresteiro esbarram na intempérie,
Cujo ocaso emudece ambos;
A aragem passa lenta
E o movimento dos galhos
Parecem dançar a valsa da despedida.
Agora já de madrugada
O primeiro galo canta
O jegue relincha,
Sem muita demora passos cadenciados
Trepidam nas calçadas
E o assovio de uma canção triste
Confunde-se com o barulho da chuva.
Já no patamar da igreja uma bênção
E o sino rompe de vez o silêncio.
As andorinhas, os morcegos e as mariposas Esvoaçam por sobre o teto gélido
E as torres perfiladas
Sustentam filetes de luz
Em direção à estátua do Cristo Redentor.
Só mais tarde surge o sol
E expulsa a lua que rastejou a noite
Sem mostrar seu brilho e encanto.
Se vai ela anônima e perdida,
Porém com o intuito de voltar
E mais cedo aproveitar a noite
Que lhe dar o charme,
Embelezando as praças,
Os jardins e as flores perfumadas.

afai-artigo -poesia p 14

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