Data: 07/06/2009
Nome: JOSÉ AIRTON PEREIRA SOARES
E-mail: airton.soares.as@gmail.com
Assunto: "DE REPENTE apareceu-me o Fernando "O GOMA" e numa incivil ou no mínimo descortês atitude, embora sendo uma ainda criança, diz-me: - Tu tá aí babando, né Joantonho!? Fora daqui!"
dom 07 06 09 – 1856
AFAILCA – CRÔNICAS - 08
...E ERA NATAL
Por João Antonio Martins - (dez/04)
Era Natal. Certamente vinte e quatro de Dezembro de mil novecentos e sessenta e dois, sessenta e três.
Costumeiramente teria eu trazido duas cargas de farinha ou rapaduras que seriam vendidas na feira.
Depois de trancar os semoventes no quintal, e estando todos os meus na Serra, resolvi, patusco, dar umas voltas pelas ruas da cidade; Com o que, faria um contacto mais íntimo com o Torrão Querido. De tão íntimo o fazia, que andava descalço, um bichinho aqui outro ali em cada pé, se não por causa destes, talvez pela quebra das alpercatas na descida da ladeira, em face de uma esdrúxula topada.
Parei um pouco na PADARIA do Manú, ao lado da Escola São Gerardo da Dona Maria Assis, onde trocara algumas palavras com o Toin, o responsável pelo tão pequenino estabelecimento à época, tão minúsculo quanto as padas que ali era comercializadas.
Ato contínuo segui, segui até o Bar Alvorada, onde apreciaria as capciosas jogadas de damas do seu Dejacy Torquato, ou simplesmente ouviria entra as "gargalhadas infinitas do lugar" das apoteóticas e ou sócio-democráticas críticas tão autênticas quanto singelas, os mais estranhos pareceres, sem contar-se com a incansável pabulagem do seu Raimundo Salú.
Daquele ponto fui atraído pelas luzes das petromaxes sob os verdes caramanchéis dos jardins da residência do seu Bastos. Extasiado ai permaneci por alguns minutos, vislumbrando pelas frestas dos balústres ali existentes, a rica mesa ali posta.
Sob as latadas, perus, frangos, leitões, deveras condizentes à ocasião e ao aniversário do nome mais expressivo destes dois milênios, ícone da demarcação temporal ali comemorada.
Ali eu estava fazendo uma reflexão, ou sentindo de perto a diferença entre as pessoas, mesmo quase dois mil anos depois, ainda que num minúsculo universo como era a nossa Ipu à época.
De repente apareceu-me o Fernando "O GOMA" e numa incivil ou no mínimo descortês atitude, embora sendo uma ainda criança, diz-me:
- Tu tá aí babando, né Joantonho!? Fora daqui!
- Nada respondi, voltei à minha casa e permaneci no degrau da porta da frente observando aos que passavam: Alguns eufóricos, sorriam. O Ciço Rico na sua Luminosa bicicleta, o Deusdete também na sua que emparelhados tocavam com a mesma cadência os pedais. Um outro melancólico como eu era o Bureta, filho da Maria Bureta, lembra?
- Ouço de repente um chiado de chinelo no cimentado da calçada, era seu Vicente Rocha que se aproximava trazendo-me uma fatia de bolo e um copo de aluá ou aricorico, não saberia definir, todavia se o sentido corporal não soubera diferir, indubitavelmente guardara-se à memória a grotesca distinção entre os marcantes gestos.
Necessário se fizera decerto, "Alguns Natais" para que com o tato do experimento, aduzisse e comprovasse dos ensinamentos do "Mestre Maior" ou da dicotomia da natureza humana que: Depois da tempestade sempre virá a bonança.
Por esta, e a quem esta vir, sem qualquer pretensão propedêutica, interponho recorrente: Obbservai aos que estiverem a volta da sua mesa, mormente nesta data.
UM FELIZ NATAL A TODOS
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Fonte: site da AFAI - Artigos - Crônicas - pág. 15 - Acessado em 07/06/2009
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