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sexta-feira, 19 de junho de 2009

AFAILCA – Crônicas - 12

Data: 16/06/2009
Nome: JOSÉ AIRTON PEREIRA SOARES
E-mail: airton.soares.as@gmail.com
Assunto: Olha a PUBA... rapadura preta, tá no preço...Alfinim...alfinim

seg 16/06/2009

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Crônicas solicitada por nosso
confrade Julio Gomes Martins
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Fonte: site da AFAI – Artigos – Crônicas

• Raimundão – pág 13 - LV -12/06/09
• A luta do foguim
• Banho do lago
• Feiras do Ipú – partes I e II – pág. 6 – LV – 16/06/09


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AS FEIRAS DO IPU (Boris) (1ª parte)
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Trecho de crônica publicada no "Jornal dos Tabajaras", edição de maio de 1998.
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As tradicionais feiras do Ipu, desde tempos longínquos, tornaram-se conhecidas e famosas por toda a região, pela diversificação e abundância dos produtos nelas comercializados.

Até o final dos anos 50, início dos 60, nossas feiras, ainda em menores proporções, já eram muito fartas e com predominância absoluta dos produtos regionais, trazidos de todos os recantos do nosso município.

Como ainda era muito raro o transporte motorizado, os produtos eram trazidos para as feiras em lombo de animais ou mesmo na cabeça de homens, mulheres e crianças que os traziam de suas próprias roças ou produção artesanal.

O acesso à feira não era fácil, muitas vezes por caminhos tortuosos, descendo ladeiras íngremes, como, por exemplo, a “Ladeira da Velha”, a “Escada de Pedras” e tantos outros que serviam para encurtar distâncias entre o campo e a cidade.

Por eles passava gente de todas as localidades, tangendo animais com cargas ou simplesmente conduzindo em suas cabeças cestas, balaios, sacos, jacás, potes, alguidares etc., conduzindo imensa variedade de produtos de suas lavouras. Traziam farinha, goma fresca e carimã (ou bolo de puba) derivados da mandioca; bolo manzape, pamonha de buriti; rapadura, batida, tijolo de rapadura com mamão verde e coco, alfenim, mel de cana e de abelha; frutas variadas como banana, abacate, ananá, limão, laranja, tangerina, mamão, mangas, além de outras mais exóticas como o cambuí, suspiro, jatobá, oiti-turubá, pitomba, ingá, xixá etc.

Tudo isso era exposto e comercializado na feira pelos próprios produtores e familiares, sem ganância de lucros, apenas para obter recursos necessários para suprir suas carências.

Como as nossas características geográficas nos privilegiaram com micro-regiões de clima e solos diferentes, serra, pé de serra e sertão semi-árido, a natureza foi generosa, proporcionando condições de produzirmos com fartura, tudo aquilo que a terra pode oferecer para nossa sobrevivência. O campo abastecia as feiras de quase tudo e o que se comprava era rigorosamente natural.

A serra e pé da serra produziam os derivados da cana-de-açúcar e da mandioca; frutas frescas, não raro, amadurecidas nos pés; verduras pouco variadas, mas isentas de substâncias químicas; mel de abelha Jandaíra, hoje raríssimo; arroz, feijão, milho, gergelim, tudo natural; o algodão, a mamona e o fumo em corda; utensílios domésticos, adornos, brinquedos artesanais feitos de barro, de palha de carnaúba, de bambu e de outros materiais nativos ajudavam complementar o orçamento doméstico do homem do campo.

Remédios caseiros, plantas medicinais, cera de abelha; a cera de carnaúba, que além do seu vasto uso na indústria, era utilizada para encerar pisos, principalmente nos salões de bailes etc. O azeite de mamona também era muito usado como remédio e como eficiente lubrificante.

O famoso óleo de coco, extraído manualmente, usado como cosmético e amaciante de cabelos era vendido em pequenas doses medidas em colheres, a maioria usada ali mesmo, na palma da mão para massagear os cabelos das mulheres mais vaidosas.

O sertão mandava o leite, o delicioso queijo, a nata, a manteiga de garrafa (manteiga da terra), o doce de leite; aves e ovos caipiras; peixes frescos e salgados; carneiros e bodes vivos ou abatidos em forma de mantas salgadas.

Por causa dessa imensa fartura, as feiras do Ipu atraiam gente de todos os recantos do município e até de outros vizinhos que vinham comprar, vender ou simplesmente passear, rever amigos, parentes e compadres ou apenas para tomar umas e outras na cidade.

Em fim, as limitações da época faziam com que aquilo se constituísse no principal lazer daquela gente simples e feliz.

Cordialmente,
Antônio Tarcízio Aragão (Boris/Ipu).

Formatação: AS

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