Data: 12/06/2009
Nome: JOSÉ AIRTON PEREIRA SOARES
E-mail: airton.soares.as@gmail.com
Assunto: “RAIMUNDÃO... o seu coração é incomparavelmente maior que...”
sex 12/06/2009
AFAILCA – Crônicas - 10
RAIMUNDÃO
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Crônica solicitada por nosso
confrade Julio Gomes Martins
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Por João Tomaz Lourenço Martins (Tontim)
Meu pai foi por muito tempo proprietário da fazenda Carão. Um quinhão de terra encravado na divisa do Ipú com Ipueiras.
No final dos anos cinqüentas o Carão foi vendido. A terra saía do domínio DOS MARTINS para o Seu PEDRO ARAGÃO, comerciante de Ipueiras. Contudo, as raízes formadas nesses anos todos, não absorveriam incontinenti a transferência cartorial.
Anos depois, papai e mamãe continuaram recebendo convites para ser padrinhos de dezenas de descendentes de seus ex-moradores.
Um destes moradores era o RAIMUNDÃO. Homem rude, de físico avantajado. Se calçasse sapatos, seu número certamente seria ou 55 ou 56. Dono de um pé grande, todavia possuidor também de uma cordialidade sem igual para com as pessoas, mormente para com seus ex-patrões.
Religiosamente aos sábados, cedinho, vinha o RAIMUNDÃO à feira do Ipu. Amarrava os animais na mungubeira de frente à nossa casa do Quadro e apresentava suas saudações aos de casa. Após uma conversa breve, saía o RAIMUNDÃO aos seus afazeres, voltando no meio da tarde para as despedidas e seu conseqüente retorno ao Carão.
Numa dessas ocasiões, RAIMUNDÃO queixara-se de umas tonturas, acompanhadas de empalidecimento e vertigens. Papai e mamãe providenciaram-lhe uma consulta ao médico, este lhe prescrevendo uns exames, dentre os quais, o de fezes.
Mamãe fez ao RAIMUNDÃO as recomendações de praxe quanto ao modo de coletar o material para que no sábado vindouro fosse entregue no laboratório.
Chegou o sábado! O dia já estava na sua sexta hora, quando apresenta-se de corredor à dentro, o RAIMUNDÃO.
Mamãe divisa de longe seu velho compadre e percebe que trazia algo pesado sobre os ombros, ao ponto de deixá-lo envergado. Ao aproximar-se RAIMUNDÃO, de sua comadre, esta desvenda o mistério: Uma lata de vinte litros, certamente repleta de agrados.
- Será farinha d'água?
- Bem que poderia ser goma para fazer tapiocas!
- Como está no seu tempo , são atas que o Compadre trouxe para o Antonio.
RAIMUNDÃO ofegante, dá o seu bom-dia e antes mesmo de se desvencilhar da lata, despeja esta preciosidade:
- Comadre, comecei a juntar desde o domingo passado.
Mamãe experimentava ali aqueles momentos híbridos pelos quais passamos todos nós. Por um lado querendo desatar-se a rir. Por outro lado, contendo-se ante o ar não muito agradável contagiando toda a casa e o olhar triste do RAIMUNDÃO como que a denunciar que o seu coração é incomparavelmente maior que a sua inteligência.
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Fonte: site da AFAI – Artigos –Crônicas – Pág. 13, acessado em 12/06/2009.
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