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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Para aqueles que querem escrever bem e não dispõem de “saco” para o estudo (para enchê-lo) aqui estão algumas dicas

Data: 28/06/2010
Nome: Farias Neto
E-mail: fariasnetolettras@hotmail.com
Assunto: Vernáculo II

ESCREVER não é tarefa fácil, ainda mais para aqueles que não têm o hábito da leitura. Para alguns, colocar ideias no papel é um martírio. Escrever bem é uma ARTE difícil. Não é, absolutamente, um dom, como alguns pregam. O primeiro passo para ser fluente no domínio da língua pátria e, sobretudo, na escrita, é ser um bom leitor. O que é ser um bom leitor? É, sem dúvida, ler bons livros (atentamente). Se o seu tempo é curto, para quê ler um livro de Paulo Coelho se você tem ao alcance das mãos obras de Guimarães Rosa. Para quê ler Sidney Sheldon, Harold Hobbins, Morris West, se se tem à disposição Orhan Pamuk, Marcel Proust, Franz Kafka, Dostoievski, para ficar só na literatura. A erudição é fundamental. Aprofundar a leitura em diversas áreas do conhecimento (literatura, filosofia, história, sociologia, principalmente) é fundamental. Isso requer tempo e dedicação. Não é para “qualquer um” (qualquer um, sem distinção de classe social).

NO ENTANTO, para aqueles que querem escrever bem e não dispõem de “saco” para o estudo (para enchê-lo) aqui estão algumas dicas. Hoje só é uma!

1. Muitas pessoas deslizam quando usam expressões como esta: “queremos brasileiros melhor formados”, aparentemente elegante, porém, incorreta segundo a norma culta. E não é “qualquer um” que incorre no erro. A frase foi dita pelo ex-presidente da república FHC. Deslizou feio no vernáculo.

Deslizou feio não apenas pelo mau uso da língua, mas, em função do contexto em que proferiu a “elegante expressão”. Foi em novembro do ano passado. Naquele momento FHC, em evento do PSDB, criticou a suposta corrupção do governo Lula, atacado pela imprensa, ignorando o lixo à sua porta. Aproveitou a ocasião para, de modo sutil, atacar a “falta de instrução” do atual presidente. Disse, portanto:
"Há sim acadêmicos entre nós (PSDB). Não temos vergonha disso. Há sim gente que sabe falar mais de uma língua, mas sabemos falar nossa língua, e falamos direito. E faremos o possível e o impossível para que saibam falar bem a nossa língua. Queremos brasileiros melhor educados, e não brasileiros liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria".

FHC SEMPRE atacou Lula pela linguagem da qual faz uso, não condigna, segundo ele, com alguém na posição dele.

O EPISÓDIO descrito acima demonstra algo comum na sociedade brasileira: o chamado “preconceito linguístico”. Todo preconceito linguístico é um preconceito social disfarçado.

O QUE ESTÁ em jogo no caso? Está em jogo, antes, uma questão política, mais do que uma questão de linguagem. No entanto, “consertemos” a expressão dita por FHC. Qual foi o erro?

Assim como Lula, até os seus antecessores na presidência do país, com diplomas de doutores, tropeçam no vernáculo.

ALGUNS ESTUDIOSOS de nossa língua aceitam, com ressalvas, a forma construída por FHC, porém, os mais sábios e defensores do vernáculo a condenam. Na ocasião, o mais certo, segundo a norma culta, seria: “Queremos brasileiros mais bem-educados". Por quê? Porque se usa o advérbio “BEM” antes de particípio (educado, no caso, é a palavra-base, unida ao prefixo bem) escoltada pelo advérbio mais. O fato é que nessa circunstância MAIS modifica o grupo "bem-educado", "que o acadêmico Evanildo Bechara chamaria de unidade léxica". Como nos seguintes exemplos: "mais bem formado", "mais bem-visto", "mais bem-feito", "mais bem roubado", “mais bem enganado”, mais bem comprado” e assim por diante. A mesma regra vale para a palavra pior. “Não precisamos de brasileiros mais mal educandos” e não “Não precisamos de brasileiros pior educados”.

Mesmo com o seu erro, FHC chamou atenção, sem querer, para duas questões importantes. De um lado, mostrou que a linguagem e o seu uso revelam preconceitos sociais, ainda fortes em nossa sociedade (já houve isso aqui no LV) e, de outro lado, que precisamos de “brasileiros mais bem-educados”.

POR ÚLTIMO, FHC como sociólogo errou feio, criticou seu adversário maquiavelicamente, buscando denegri-lo por falta de instrução e não dominar a língua, num Brasil miserável, pelo menos há até pouco tempo. Quanto à língua e sua relação com o social (pois sociologia ele entende), precisa ler o que escreveram, sobre o assunto, os sociolinguístas.

LIÇÃO NÚMERO 1: jamais use “melhor”, antes de particípio. Use “mais bem”, embora sói “pior” ou então você poderá ser vítima de preconceito linguístico.

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