OURO DO IPU DE DELMIRO GOUVEIA E
IRACEMA DOS LÁBIOS DE MEL
É só em que se fala, ultimamente, é no ouro do Ipu. Ouro do Ipu na boca do povo, ouro do Ipu nos jornais, ouro do Ipu em Ipu. E, nesta fase, tivemos a oportunidade de nos encontrar naquelas terras de Iracema, por alguns dias. Entramos em entendimento com o fotógrafo Paulo Soares tomamos um jipe e nos dirigimos à fazenda Santa Úrçula, atualmente de propriedade do Sr. Vanderley Scorsafava, ao leste da decantada Ipu, onde ficam as escavações, gastas pelo tempo, da célebre minas do Bom Jesus, atestando os serviços que foram empreendidos, exploração já foi muito tentada, e, com mais facilidade, pessoas destituídas de conhecimentos mineralógicos, extraíram, em grande quantidade, o precioso metal.
COMO CHEGAMOS E COMO ESTÁ A MINA
Após percorrermos 12 Km de estrada carroçal, alcançamos um casarão. Sob uma latada de folhas de pau, o motorista parou e disse – é aqui. Descemos e seguimos à mansão. Batemos à porta. Atendeu-nos uma senhorita. Interrogada sobre a mina do Bom Jesus, informou-nos que era ali mesmo e só quem sabia do local era o seu pai, e, este estava no roçado a trabalhar, porém, mandaria chamá-lo. Chegando o Sr. Francisco Verônico, prontificou-se em nos mostrar a tão comentada mina. Mata adentro, caminhamos aproximadamente uns dois quilômetros. À margem esquerda da “Grota da Mina”, uns dez metros, mais ou menos, lá está o desaterro de uns 10 metros de extensão, por uns oito de profundidade, embora já depois de bastante soterrada pelas águas da grota e o passar dos tempos. Não existe nenhum indício de exploração recente. As escavações atestam que os serviços foram empreendidos há muitos anos, desafiando, ainda, convicta de seu grande valor, a cobiça de audazes exploradores.
O QUE MAIS EXISTE
Distando aproximadamente um quilômetro das escavações da mina, ainda podemos ver os restos da “casa-local” que os exploradores cuidavam das pesquisas, os mourões fincados usados na formação da comporta, no riacho, além da vala feita de pedra e cal.
Na oportunidade, contou-nos o Sr. Francisco Verônico: “Tenho 54 anos, e, quando me entendi já foi ouvindo falar nesta mina. Conheci os caboclos João, Pedro e Antônio Maciel, três irmãos, que trabalharam com os cientistas, nos serviços pesados. Ainda alcançamos os trilhos por onde corriam, dia e noite, o trolho a transportar pedras, e, ainda, uma velha locomotiva, um britador e muitas outras ferramentas pesadas. Tudo isso desapareceu sem se saber para onde e nem como”, explicou.
Tivemos oportunidade de observar, na extensão por onde o senhor Verônico nos mostrou que o trolho passava, pedras e mais pedras que dele escapavam, formando assim como que uma demarcação.
O POVO FALA, OS HISTORIADORES ESCREVERAM
O ouro de Ipu já serviu para muitas obras suntuosas, é abundante, principalmente ás margens do riacho Juré -- hoje pertencente ao município de Reriutaba -- onde Diogo Lopes de Araújo Sales, em 1844, auxiliado por um garimpeiro mineiro, conseguiu arrancar 1.026 gramas de ouro de ótimo quilate.
Um preto velho que viveu em Ipu, naqueles tempos, com a alcunha de Pai Fulo, extraiu, da mina do Bom Jesus, porções de outro de alto quilate, tendo vendido a ourives da cidade e ofertado a pessoas de sua amizade, entre elas, o Pe. Francisco Correa de Carvalho e Silva, então vigário da paróquia de Ipu, que, do qual, mandou confeccionar fivelas para seus sapatos.
Em sua importante obra, “O Ceará no Começo de Século XX”, o Dr. Tomaz Pompeu de Sousa Brasil, referindo-se ao ouro do Ipu, diz que: “Riachos Curimatã, Bom Jesus e Juré, de muito tempo que os tirou, batendo-lhes palhetas...”
O notável cearense diz ainda, quando particulariza essas minas: “O ouro de Curimatã, na opinião do naturalista Feijó, é da cor avermelhada bem carregada, e o do Juré de qualidade superior”.
Contam que, em 1868, um fulano de tal Teixeira, ipuense dos aventureiros que sabia da existência da mina, providenciou pesquisas junto a um profissional inglês, constatando, o especialista, ótima qualidade de ouro e as boas vantagens de sua exploração. Já no fim do século passado, Raimundo Heráclito de Carvalho, acadêmico em Minas Gerais, da Escola Politécnica de Ouro Preto, foi convidado por Teixeira a visitar a mina de Bom Jesus. O resultado é que organizaram uma sociedade e entregaram-se, de corpo e alma, a procura de independência econômica. Teixeira chegou mesmo a conseguir, com o Governo Imperial, direito por 30 anos para explorar as minas de ouro, chumbo, e outros minerais: Decreto nº 3.779, de 12 de janeiro de 1867, revalidado pelo Decreto nº 4.876, de 24 de janeiro de 1872.
Dona Maria Cajão, também conhecida por Maria Naval, até bem pouco tempo possuiu um anel de ouro da mina de Bom Jesus, realmente pesquisado por seu bisavô, João Rodrigues de Andrade Cajão. Os Cajãos, de Ipu, enriqueceram com o ouro do Bom Jesus.
Ipu é dotado de beleza natural, poesia, riqueza. Possuiu um Delmiro Gouveia, pioneiro da eletrificação do Nordeste, uma Iracema dos lábios de mel e de um cheiro que ainda sentimos!
Por jpMourão - publicado no então jornal
UNITÁRIO, dos Diários Associados,
de 25 de maio de 1969.
afai-fatos históricos p2
11/07/2008
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