Data: 05/06/2009
Nome: Amanda Melo
E-mail: amanda_martinsmelo@yahoo.com.br
Assunto: Esse texto é em Homenagem ao meu Primo Eduardo, um anjo q passou em nossas vidas...
Artigo do Dr. Rogério Brandão
Médico oncologista clinico
No início da minha vida profissional, senti-me atraído em tratar
crianças, me entusiasmei com a oncologia infantil. Tinha, e tenho
ainda hoje, um carinho muito grande por crianças. Elas nos enternecem
e nos surpreendem como suas maneiras simples e diretas de ver o mundo,
sem meias verdades.
Nós médicos somos treinados para nos sentirmos "deuses". Só que não o
somos! Não acho o sentimento de onipotência de todo ruim, se bem
dosado. É este sentimento que nos impulsiona, que nos ajuda a vencer
desafios, a se rebelar contra a morte e a tentar ir sempre mais além.
Se mal dosado, porém, este sentimento será de arrogância e
prepotência, o que não é bom. Quando perdemos um paciente, voltamos à
planície, experimentamos o fracasso e os limites que a ciência nos
impõe e entendemos que não somos deuses. Somos forçados a reconhecer
nossos limites!
Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei
meus primeiros passos como profissional. Nesse hospital, comecei a
freqüentar a enfermaria infantil, e a me apaixonar pela oncopediatria.
Mas também comecei a vivenciar os dramas dos meus pacientes,
particularmente os das crianças, que via como vítimas inocentes desta
terrível doença que é o câncer.
Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao
ver o sofrimento destas crianças. Até o dia em que um anjo passou por
mim.
Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada porém
por 2 longos anos de tratamentos os mais diversos, hospitais, exames,
manipulações, injeções, e todos os desconfortos trazidos pelos
programas de quimioterapias e radioterapia.
Mas nunca vi meu anjo fraquejar. Já a vi chorar sim, muitas vezes, mas
não via fraqueza em seu choro. Via medo em seus olhinhos algumas
vezes, e isto é humano! Mas via confiança e determinação. Ela
entregava o bracinho à enfermeira, e com uma lágrima nos olhos dizia:
faça tia, é preciso para eu ficar boa.
Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu anjo
sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. E comecei a ouvir uma resposta
que ainda hoje não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.
Meu anjo respondeu:
- Tio, disse-me ela, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar
escondido nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com
muita saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não
nasci para esta vida!
Pensando no que a morte representava para crianças, que assistem seus
heróis morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes, indaguei:
- E o que morte representa para você, minha querida?
- Olha tio, quando agente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do
nosso pai e no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria
cama não é?
(Lembrei minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos, costumavam
dormir no meu quarto e após dormirem eu procedia exatamente assim.)
- É isso mesmo, e então?
- Vou explicar o que acontece, continuou ela: Quando nós dormimos,
nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para nossa
cama, não é?
- É isso mesmo querida, você é muito esperta!
- Olha tio, eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu
Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!
Fiquei "entupigaitado". Boquiaberto, não sabia o que dizer. Chocado
com o pensamento deste anjinho, com a maturidade que o sofrimento
acelerou, com a visão e grande espiritualidade desta criança, fiquei
parado, sem ação.
- E minha mãe vai ficar com muitas saudades minha, emendou ela.
Emocionado, travado na garganta, contendo uma lágrima e um soluço,
perguntei ao meu anjo: - E o que saudade significa para você, minha
querida?
- Não sabe não tio? Saudade é o amor que fica!
Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um dar uma definição
melhor, mais direta e mais simples para a palavra saudade: é o amor
que fica!
Saudades Eternas. Amor Eterno!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário