(Olívio Martins de Souza Torres)
Inaugurado em 10 de outubro de 1894, o prédio da Estação de Ipu é um dos mais belos em toda a malha ferroviária do Brasil segundo os especialistas no assunto.
Não quero, aqui, me deter sobre a importância da estrada de ferro para Ipu no que concerne aos aspectos econômico, social, urbano, arquitetônico e cultural, pois dessa parte se encarregarão os historiadores da terra, cuja safra, hoje, é muito promissora. E, também, para que ninguém, com razão, me venha a dizer: “Ne sutor supra crepidam”, ou seja, “Sapateiro, não subas além da sandália”, como disse o pintor Apeles a um sapateiro que criticara uma parte de uma pintura sua que não a sandália.
Quero apenas me restringir ao lado nostálgico deste belo monumento histórico. Com efeito, a Estação é um dos ícones de Ipu, ao lado da Bica, da Igrejinha, do Jardim Iracema e do prédio da Prefeitura, dentre outros. E foi parte integrante da minha infância e da minha juventude, pois, como disse a nossa escritora maior Rachel de Queiroz, “Menino criado em beira de linha fica com o trem no sangue”.
Era a Estação o ponto de encontro diário de grande parte da população da cidade. Ao toque da sineta, anunciando a chegada próxima do trem, as pessoas se dirigiam em correria para lá. A Estação presenciou, sem dúvida, grandes momentos e episódios marcantes. Eram partidas e chegadas de entes queridos, encontros e desencontros, alegrias e tristezas, boas-vindas e despedidas, sorrisos e lágrimas, beijos e tapas, juras de amor e chiliques de ciúme, inícios e términos de flertes e namoros. Enfim, as alegrias e as vicissitudes que povoam os fundos arcanos da misteriosa e insondável alma humana.
E não é que, por pouco, íamos perdendo esse ícone quando, em 2001, fora adquirido por um comerciante de fora, que vencera licitação da RFFSA, para ser transformado numa revenda de motos. Em face de uma forte campanha desenvolvida pela Associação dos Filhos e Amigos de Ipu – AFAI, que mobilizou toda a população com vistas à integração da Estação ao patrimônio da cidade, a Prefeitura de Ipu se viu obrigada a considerar aquele prédio como de utilidade pública, adquirindo-o, em tempo hábil, do proprietário.
Para registro nos Anais da História, cabe ressaltar que a Estação de Ipu serviu de Quartel General da Coluna Prestes que, em 13 de janeiro de 1926, aos primeiros raios da aurora, chegou à cidade sob o comando do Coronel João Alberto. Havia na Estação uma composição ferroviária e o maquinista da locomotiva 17 foi obrigado, na tarde daquele dia, a deslocá-la a uma distância de 5 km, onde a mesma foi abandonada.
A Estação de Ipu já foi tombada pelo IPHAN e o projeto de sua recuperação foi feito, conjuntamente, pelo IPHAN/DER/SECULT, e nela será instalada uma biblioteca pública. Para a recuperação da Estação foram decisivos os apoios de nossos legítimos representantes na Assembleia Legislativa do Ceará, os deputados Sávio Pontes e Gomes Farias, e a Sra. Maria do Socorro Pereira Torres, prefeita municipal de Ipu. O povo, com certeza, lhes será grato, e toda vez que o trem apitar nos Pereiros e nas Pedrinhas ecoarão, em conjunto, o apito da locomotiva e as palavras de louvor e gratidão aos seus grandes benfeitores.
Os trabalhos de recuperação estão prestes a começar e a nossa Estação vai ser devolvida à população em todo o seu esplendor do passado. O fato deverá constituir-se numa festa memorável.
Permito-me sugerir às autoridades do Estado e do Município que, quando da reinauguração, seja feita uma placa de bronze com os nomes de todos os agentes da Estação que moraram em Ipu. Foram figuras importantes que muito contribuíram para o desenvolvimento de nosso torrão natal. Lembro-me, ainda, de alguns deles, como os senhores Craveiro, Carlito e Isaías. O último agente ainda mora na cidade. Está aposentado, e é o senhor José Maria Pereira da Silva.
Deveriam ser convidados para esse inolvidável evento os agentes ainda vivos e os familiares de todos os agentes que não estão mais entre nós a fim de receberem as justas homenagens do povo ipuense pelo muito que fizeram em prol do nosso desenvolvimento.
(Texto publicado no sítio www.ipu-ce.com, da AFAI, em 24/07/2008)
Olívio Martins é Membro da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes (AILCA), Técnico aposentado do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Licenciado em Letras Anglo-Germânicas com Curso de Pós-graduação na Universidade de Wuerzburg (Alemanha) e Professor de Língua e Literatura Portuguesa e Brasileira.
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