Sábado - 16 de julho de 2011
Viva DN
ACELERAÇÃO
La dolce vita no ócio
Publicado em 3 de julho de 2011
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ÓCIO E TEMPO LIVRE CONTRIBUEM PARA O HOMEM SUPERAR A ILUSÃO DA ACELERAÇÃO DO RITMO DE VIDA?
Estamos, na segunda década do século XXI, assim tão distantes dos Jardins do Éden?Pela Teoria da Complexidade (Física), na unicidade criada pelo conceito de fractais, nos deparamos a cada instante com o caos do frenesi produtivo e consumista do hipertempo e o não tempo (ou tempo livre) do parar, contemplar, fazer nada no puro e genuíno ócio.
É possível que estejamos experimentando um avanço real de percepção: a um só tempo, como denomina o sociólogo italiano Domenico De Masi, vivenciarmos na atualidade o cume do modelo centrado na idolatria do trabalho e da competitividade e a interioridade da contemplação do nada, reabastecendo as baterias no deleite, no desfrute, enfim, na ociosidade.
Em 1995, De Masi publicaria suas primeiras ideias, na Itália, sobre o ócio criativo. Elas só passaram, entretanto, a ecoar no mundo neste século (publicado no Brasil pela Editora Sextante). De todo modo, três décadas antes, pensadores alemães e franceses já anteviam que as promessas do avanço científico e tecnológico propiciariam mais tempo livre ao homem e menos disputa por trabalho, com redução de carga horária para todos terem ocupação, com tempo para bem viver, cuidar de suas necessidades pessoais, da família e conviver com amigos e a comunidade.
A pergunta que não cala, então, é exatamente a óbvia: se todo esse tempo livre existir, de fato, o que fazer com ele?
Vida lazer é consumo?
Por enquanto, passar horas diante da Tv e do computador, estar com a namorada ou a família e as crianças no shopping para consumir, por temores infundados, em um circuito vicioso acelerado e desenergizante, parece ser o lazer disponível. Mas esse "break" consegue ser visto como merecida pausa do trabalho produtivo? As atividades ininterruptas não estão exaurindo e consomindo o que nos resta de forças criativas para viver o prazer?
Estudiosos do ócio na contemporaneidade, como o professor Clerton Martins, da Universidade de Fortaleza (Unifor), há anos acredita que saiu dessa roda-viva para trabalhar com certo desprendimento do tempo.
Na verdade, é o que podemos chamar de emprego do tempo responsável, quando alguém, de forma consciente e deliberada, resolve apropriar-se desse tempo com autonomia para transfigurá-lo, em movimentos mediante seu espírito criativo: esticar, encurtar, condensar, esparramar e, até, parar completamente na dimensão atemporal.
Clerton Martins acaba de retornar da cidade de Bilbao, Espanha, onde esteve com outros quatro pesquisadores do Otium - Laboratório de Estudos sobre o Ócio, Trabalho e Tempo Livre do Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) de Psicologia da Unifor. Os pesquisadores apresentaram trabalhos de pesquisa no Encontro Ociogune 2011, um fórum europeu de reflexão e investigação em torno do ócio na contemporaneidade.
O evento existe desde 2006 e enfocou este ano "Ócio e Inovação: rumo a um comprometimento com o desenvolvimento humano", com três linhas temáticas: ócio solidário e compromisso social; ócio criativo e transformações coletivas e ócio responsável e ambiente sustentável.
Os trabalhos dos pesquisadores da Unifor são fruto de investigações com resultados do projeto de pesquisa desenvolvida entre os anos de 2008 a 2010. Camile Gouveia Varela, psicóloga organizacional e do trabalho foi uma das pesquisadoras, junto com o professor Clerton Martins, a apresentar no evento espanhol, promovido pelo Instituto Multidisciplinar de Estudos do Ócio, da Universidade de Deusto, o trabalho "Rupturas do Tempo da Tarefa como Possibilidade de Resignificação no Contexto de Trabalho". Outra psicóloga do trabalho, Rebeca Oliveira, mostrou "As Viagens como Experiência Subjetiva de Ócio Potencializadoras do Desenvolvimento Humano". Julio Torres, professor da Unifor, e também Clerton Martins, conseguiram abrir o leque desses estudos do tempo com "As Possibilidades Fractais de Experiência de Ócio".
ROSE MARY BEZERRA
REDATORA
Estamos, na segunda década do século XXI, assim tão distantes dos Jardins do Éden?Pela Teoria da Complexidade (Física), na unicidade criada pelo conceito de fractais, nos deparamos a cada instante com o caos do frenesi produtivo e consumista do hipertempo e o não tempo (ou tempo livre) do parar, contemplar, fazer nada no puro e genuíno ócio.
É possível que estejamos experimentando um avanço real de percepção: a um só tempo, como denomina o sociólogo italiano Domenico De Masi, vivenciarmos na atualidade o cume do modelo centrado na idolatria do trabalho e da competitividade e a interioridade da contemplação do nada, reabastecendo as baterias no deleite, no desfrute, enfim, na ociosidade.
Em 1995, De Masi publicaria suas primeiras ideias, na Itália, sobre o ócio criativo. Elas só passaram, entretanto, a ecoar no mundo neste século (publicado no Brasil pela Editora Sextante). De todo modo, três décadas antes, pensadores alemães e franceses já anteviam que as promessas do avanço científico e tecnológico propiciariam mais tempo livre ao homem e menos disputa por trabalho, com redução de carga horária para todos terem ocupação, com tempo para bem viver, cuidar de suas necessidades pessoais, da família e conviver com amigos e a comunidade.
A pergunta que não cala, então, é exatamente a óbvia: se todo esse tempo livre existir, de fato, o que fazer com ele?
Vida lazer é consumo?
Por enquanto, passar horas diante da Tv e do computador, estar com a namorada ou a família e as crianças no shopping para consumir, por temores infundados, em um circuito vicioso acelerado e desenergizante, parece ser o lazer disponível. Mas esse "break" consegue ser visto como merecida pausa do trabalho produtivo? As atividades ininterruptas não estão exaurindo e consomindo o que nos resta de forças criativas para viver o prazer?
Estudiosos do ócio na contemporaneidade, como o professor Clerton Martins, da Universidade de Fortaleza (Unifor), há anos acredita que saiu dessa roda-viva para trabalhar com certo desprendimento do tempo.
Na verdade, é o que podemos chamar de emprego do tempo responsável, quando alguém, de forma consciente e deliberada, resolve apropriar-se desse tempo com autonomia para transfigurá-lo, em movimentos mediante seu espírito criativo: esticar, encurtar, condensar, esparramar e, até, parar completamente na dimensão atemporal.
Clerton Martins acaba de retornar da cidade de Bilbao, Espanha, onde esteve com outros quatro pesquisadores do Otium - Laboratório de Estudos sobre o Ócio, Trabalho e Tempo Livre do Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) de Psicologia da Unifor. Os pesquisadores apresentaram trabalhos de pesquisa no Encontro Ociogune 2011, um fórum europeu de reflexão e investigação em torno do ócio na contemporaneidade.
O evento existe desde 2006 e enfocou este ano "Ócio e Inovação: rumo a um comprometimento com o desenvolvimento humano", com três linhas temáticas: ócio solidário e compromisso social; ócio criativo e transformações coletivas e ócio responsável e ambiente sustentável.
Os trabalhos dos pesquisadores da Unifor são fruto de investigações com resultados do projeto de pesquisa desenvolvida entre os anos de 2008 a 2010. Camile Gouveia Varela, psicóloga organizacional e do trabalho foi uma das pesquisadoras, junto com o professor Clerton Martins, a apresentar no evento espanhol, promovido pelo Instituto Multidisciplinar de Estudos do Ócio, da Universidade de Deusto, o trabalho "Rupturas do Tempo da Tarefa como Possibilidade de Resignificação no Contexto de Trabalho". Outra psicóloga do trabalho, Rebeca Oliveira, mostrou "As Viagens como Experiência Subjetiva de Ócio Potencializadoras do Desenvolvimento Humano". Julio Torres, professor da Unifor, e também Clerton Martins, conseguiram abrir o leque desses estudos do tempo com "As Possibilidades Fractais de Experiência de Ócio".
ROSE MARY BEZERRA
REDATORA
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