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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Delmiro Gouveia

Data: 23/08/2010
Nome: AILCA - COMISSÃO DE TECNOLOGIA E INFORMAÇÃO
E-mail: ailca.cti@gmail.com
Assunto: :::: Delmiro Gouveia ::::

Avancemos juntos!
http://academiaipuense.blogspot.com
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DELMIRO GOUVEIA POR HÉLIO AIRES, EM 1971
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Da acadêmica Graça Aires, residente no Ipu, o acadêmico João Pereira Mourão recebeu artigo sobre Delmiro Gouveia, de autoria do conterrâneo Hélio Aires, escrito em 1971 e publicado na seção "Cartas à Redação" do jornal "O POVO", edição do dia 05 de junho daquele ano. Atualmente, Hélio Aires mora em São Paulo e continua escrevendo. Leia ou releia:


“O IPUENSE DELMIRO GOUVEIA

Precisava ser filho do sertão para possuir tanta fibra, para possuir tamanha coragem, para ter no peito o espírito amoroso pela terra, pelo Grande. Precisava ter nascido na terra tostada para possuir o arranco de sempre progredir, de transformar uma derrota em escadaria donde arrebatar incontáveis e valorosas vitórias.

Precisava trazer na alma o lamento do caboclo nordestino para gritar ao mundo que esta gente sofrida também faz parte da humanidade, que este pedaço de solo possui o maná procurado e não lhe faltam meios de arrancá-lo.

E foi no sertão cru do Nordeste, este nordeste heróico e esquecido; no seio desta terra seca, nas plagas de Ipu no dia 5 de julho de 1863, que ele nasceu. Para o futuro que dele dependia, trouxe o punho destemido e o sangue sedento de glórias do cearense. Com o anseio de saber de tudo o porquê, ele partiu para o mundo.

Poucas são as pessoas que, ao desenvolver uma atividade, pensam no benefício comunitário. Do caixeiro viajante ao maior industrial nordestino, Delmiro mirou esta virtude. No empreendimento fabuloso do mercado Derby (Recife), mais que uma vaidade no estilo administrativo, da bela e invejada instalação; do sentido turístico, por ser o único de gênero tão variado e curioso, aquela obra trazia aos pernambucanos melhores condições de uma vida tanto econômica quanto cômoda. Como "rei" das peles, proporcionou um avanço destacado do produto do Nordeste no mercado brasileiro e estrangeiro, Deu ao pequeno comerciante de peles, melhor ambiente de trabalho e melhor remuneração.

E veio seu grande feito. Num de seus deslizes amorosos, que, como ser humano estava propenso e como já havia feito o próprio pai, precisou fugir para outras plagas. E foi então que descobriu a chave de que tanto necessitava o nordestino para abrir o pesado portão do progresso. E foi lá nas entranhas do sertão, fugitivo das perseguições que o caso amoroso provocou, que ele encontrou refúgio com a amada e a visão de um grande milagre. Chegou viu e pensou: "por que será que esta água se perde assim tão fácil?" era o "São Francisco" que ali só esperava por uma mão que lhe solicitasse ajuda e Delmiro pediu esta ajuda para si, para o Nordeste e para o Brasil e ele deu. Como é lógico sozinho parecia impossível realizar o que aquele visionário antevia; então pediu a cooperação dos homens públicos sublinhando os benefícios que a energia elétrica traria aos habitantes mas, como quase sempre, esta ajuda foi negada; seria um negócio temerário causava medo tal empreendimento se por algum motivo o resultado fosse negativo enfim "dava trabalho". Com o "não", aquele vaqueiro aquele caboclo "coronel dos coronéis" não se intimidou e resolveu explorar sozinho aquela maravilha. Sabia que mais tarde, quando o mais difícil estivesse feito apareceriam colaboradores para também participar dos dividendos tanto políticos quanto econômicos.

E como todo projeto seu, aquele também obteve sucesso e assim surgiu a primeira hidroelétrica de Paulo Afonso. Ele trouxe a energia e dela o aproveitamento pioneiro para a industria. Foi ele ainda quem montou a primeira industria genuinamente brasileira a primeira perna do Nordeste para a longa caminhada. Quem diria poder uma terra onde as trevas da noite e da ignorância dominavam os lares quem diria poder montar uma industria capaz de produzir intriga, loucura e desespero na concorrência estrangeira que via fugir o grande freguês Brasil.

Era grande demais aquilo, era bom demais para ser duradouro. O Brasil naquela época não podia impor seu nome nos grandes mercados internacionais porque os senhores estrangeiros metiam a mão em tudo e aquele cearense atrevido e impetuoso os desafiava.

Os inimigos do nosso desenvolvimento do nosso progresso precisavam encontrar um meio de fazer parar aquele avanço e lançaram mãos à obra. Apesar de tentarem não conseguiram dobrar aquele espírito; apelaram, então, para a única fórmula de estancar tudo aquilo de pifar aquela máquina humana, cortam-lhe a vida.

Pouco depois, longe da sombra protetora de seu benfeitor os nordestinos assistiram a um espetáculo deprimente. As empresas estrangeiras, que após a morte de Delmiro haviam adquirido a fábrica de linhas de coser dos herdeiros, foco de seus desesperos, demoliram tudo e jogaram os destroços nas águas do rio "São Francisco". O zunzum das águas naquele dia, ao receberem os restos da grande industria de linhas de coser, traduzia choro, eram lágrimas as espumas da cachoeira naquele triste acontecimento. Pobre e desventurado Nordeste, não podia mesmo ter privilégios! Se a industria não ficou de pé, se aquele super-homem deixou de existir, bem viva ficou sua glória, em plena fecundação ficou seu sonho na alma povo, pelas estradas que abriu, como réstia de luz para o escuro sertão; pela certeza de progresso que ele nos forçou a acreditar, dando-nos a convicção de que, sozinhos também podemos realizar sonhos.

Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, nome grande para um grande homem. Homem que possuía na cabeça, o sonho maior de um povo. O precursor das leis trabalhistas, o construtor do primeiro degrau do progresso nordestino; o filho de Delmiro de Farias. O Ipuense Delmiro.”

HÉLIO AIRES

(Artigo publicado no jornal "O POVO", edição do dia 05/06/1971, na seção de "Cartas à Redação", por intermédio do jornalista J.P.Mourão.)"

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