Data: | 25/11/2009 | |
Nome: | JOSÉ AIRTON PEREIRA SOARES | |
E-mail: | airton.soares.as@gmail.com | |
Assunto: | AFAILCA Crônicas - 38 | |
Na seca do setenta e sete..................................... Quase morre todo gado........................................ No tempo da bonança........................................... Todo merda é delegado........................................ .........................................Água parada é lagoa .........................................Poço fundo é caldeirão .........................................Falei de todos delegados .........................................Só excluí Seu Janjão. [ Peba, o poeta ] SEU JANJÃO Por Antônio Carlos de Martins Mello (Tatais) O ipuense José de Sousa Procópio, residente em Brasília, manda a seguinte estória do Ipu antigo: E por falar em seu Janjão Campos eis aqui uma pequena história....... 1) SEU PEBA, O POETA Morava um pouco abaixo da casa do Seu Doca Doroteu Paiva, perto da lagoa, à margem esquerda da estrada, que vai para o sítio do Borís um senhor chamado Peba, que exercia o ofício de curtidor de couro. Era magro, de estatura mediana, tez morena e, se não fosse a peculiar inteligência e habilidade mental de exímio repentista, seria o protótipo das pessoas comuns que habitavam as redondezas do Ipu. Certa feita, como era de costume à época, dirigiu-se à feira, que era realizada aos sábados, para comprar os mantimentos que lhe garantiriam a subsistência quinzenal. Peregrinava pelas bodegas do mercado onde, após tomar umas e outras, recitava os seguintes versos, para o deleite dos clientes e desocupados ali presentes: Na seca do setenta e sete Quase morre todo gado No tempo da bonança Todo merda é delegado. Na ocasião, exercia o cargo de delegado, o Senhor Janjão Campos, eletricista de profissão, pessoa querida na comunidade, um ser humano de conduta ilibada, reconhecido pelos seus conterrâneos. Como de costume, logo apareceu um dedo duro que se dirigiu à delegacia, dizendo: - Seu Janjão, o Peba está lhe esculhambando em toda bodega que chega. Em seguida, o delegado designou dois soldados para deterem o boquirroto Peba, que logo foi encontrado tomando pinga e tirando o gosto com limão. Não opondo resistência aos policiais, foi conduzido à presença da autoridade, adentrou a delegacia com ar amistoso e despreocupado, encontrando o delegado sisudo e com cara de poucos amigos. Dirigindo-lhe a palavra, o representante da lei assim se expressou: - Peba, que estória é esta de andar me espinafrando por onde você passa, que mal eu lhe fiz,] pois sou um delegado justo, que não persigo as pessoas só prendo aquelas que realmente, cometeram algum delito e você diz por aí, que todo merda é delegado, rapaz.! - Seu Janjão, é tudo mentira, este povo do Ipu fala demais, eu estava era elogiando o senhor. -Como mentira? Como elogiando? -É mentira eu estava dizendo era assim: Na seca de setenta e sete, Quase morre todo gado No tempo da bonança Todo merda é delegado. Água parada é lagoa Poço fundo é caldeirão Falei de todos delegados Só excluí Seu Janjão. Em átimo de segundo, como tangido por um raio, o silêncio inundou a sala, todos se entreolham cheios de espanto e admiração com a inteligência e astúcia do Peba.Então, Seu Janjão, homem de extrema sensibilidade, pois era músico, um excelente bandolinista, decretou: - Solta o Peba, soldado. - O homem é um poeta! 2) ENCONTRO NO AÇUDE O dia amanhecia, nuvens avermelhadas tingiam o horizonte. O sol preguiçosamente espargia seus primeiros raios dourados sobre a cidade, que teimava em não despertar. Após uma noitada na casa das ¨meninas,¨ na rua do curral, passos trôpegos, meio cambaleante rumava o Peba para sua casa, ainda sob os efeitos etílicos. Ao cruzar com os conhecidos, dava-lhes um sonoro bom dia e saía pilheriando. Eis que o inusitado acontece: no meio da parede do açude, encontra o seu filho Zé Peba, que se dirigia ao mercado, com uma cesta debaixo do braço. O repentista não se contém e provoca: Para onde vai, Zé Peba? Que viagem é esta tua? Peba velho vai pra casa, Peba novo vai pra rua. E segue para casa onde num cômodo tosco, espichada entre duas forquilhas uma reles e rota rede o aguarda para descanso de um corpo alquebrado e para a justa quietude de um espírito que transcendia a normalidade, a formalidade e a moralidade. ............................. Fonte: Do site da AFAI / Artigos – Crônicas / pág. 3 Acesso: 24/11/2009 |
A história de um povo também é feita de minudências afetivas e verdades comezinhas.
A CADA MEIA HORA UM PENSAMENTO DI FÉ RENTE
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sábado, 28 de novembro de 2009
AFAILCA Crônicas - 38
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