Data: 10/04/2009
Nome: JOSÉ AIRTON PEREIRA SOARES
E-mail: airton.soares.as@gmail.com
Assunto: . . . . . . . crônicASemanal . . . . . .
10 04 09 - 1531
CHEIRINHO DE CAFÉ PILADO
Por Airton Soares
Já se disse que é na coisa simples que o encanto gosta de estar. Discreto e sem alarde, pode ser encontrado até no mastigar crocante da casquinha do sorvete e também na arte de lamber a tempo, sofregamente, esse viscoso creme que versátil escorrega entre nossos dedos.
Não é muito diferente de se brear a cara e a barriga, chupando manga apanhada no quintal do vizinho.
Encantos que o tempo en (levou)!
Interior! Os galos entoam suas canções. Cheirinho de padaria e de café invadem minhas sonolentas narinas.
Aqui, na capital, não se capta esta cena. Os imensos pombais de concreto - e tão próximos - nos quais habitamos, nos privam desses simples sortilégios. O vento não vem. O vento não venta. Assim, a venta inventa... ó dor!
O café da manhã acontece no meio do mundo ao som de estridentes buzinas e fuligens automotivas ou o café..., no frio escritório da empresa.
Interior! Cheirinho de café pilado... esmagaiado!
Esmagaiar, me passa a sensação de reduzir a pó alguma coisa. Esmagaiar é deixar bem esfareladozim. Tão esfareladozim que nem aparece nos dicionários, enquanto que esmagar – desconfio – não aguenta tranco. Tampouco macerar. Estes verbos me chegam aos ouvidos sem forças... raquíticos! Aquele, não! Passa um cheio sentido de cheiro de grãos de café sendo pilados por portentosa e calejada mão- de- pilão.
Esmagaiar é muito mais visceral. Permite que o perfume dos cafezais; dessa vida plena, perfure e penetre meu coração pueril, acordando irreparáveis rombos de saudade. Saudade do meu sertão. Saudade do meu ser tão reduzido a pó... Tão desencantado!
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