A história de um povo também é feita de minudências afetivas e verdades comezinhas.

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A CADA MEIA HORA UM PENSAMENTO DI RENTE
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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Data: 02/12/2009
Nome: JOSÉ AIRTON PEREIRA SOARES
E-mail: airton.soares.as@gmail.com
Assunto: @ AFAILCA Crônicas 41 @


PAINEL DE RECADOS
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....................................... RUA DOS CANUDOS -1961-63
Amigo, Julio, darei mais
dados, sim. Aguarde.
Grande abraço
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RETORNO À BICA DE IPU

Por Tobias M. Sampaio

A PRIMEIRA VISTA PODIA PARECER que jamais eu teria subido a estrada bem conservada da Bica do Ipu, para lhe render reverência como se estivesse diante de uma tribo de índios Tabajaras, circulando por entre pedras e a selva aparentemente intacta da encosta da serra da Ibiapaba.

AINDA ERA CEDO, POR VOLTA DAS ONZE HORAS de uma manhã ensolarada, coisa normal naquela região, quando me aproximei e, diante do balneário ali construído, mirei a queda d’água, recebendo no rosto respingos gelados, vindo do alto da embocada. Parecia que eu estava diante de um enorme altar e o padre atirando água benta em direção a seus fiéis. Eu era o fiel mais devoto e, por voltar ali, me sentia sempre a testemunha de que ainda existe a bica que faz sonhar e transformar visita em prosa e verso toda vez que a gente se aproxima.

PELO LADO DETRÁS DO BALNEÁRIO fui escorregando pela trilha e me aproximando mais da queda d’água, me ensopando, conforme a ação do vento que de momento em momento muda de rumo o conteúdo líquido, levando o véu para cantos distantes como quem quer aguar a vasta plantação de diversas espécies da mata nativa.

ALI NÃO DEMOREI MUITO, mas o suficiente para almoçar sob os gorjeios dos pássaros festivos e o barulho rítmico da água descendo em direção à cidade quente e calorosa.

NÃO ME IDENTIFICAVA COM NINGUÉM, mas, diante de tanta beleza, parecia que eu fazia parte de uma tribo que ali teima em fincar moradia, vinda de várias partes do Brasil. Todos ali presentes se deleitavam com a natureza e a exuberância de uma cachoeira típica dos sonhadores com a preservação de nossas belezas, de nossa flora e de nossa fauna tão desrespeitada durante anos, desde o descobrimento nada compreensível.

EM SILÊNCIO JUREI AMOR ETERNO àquela paisagem e recordei alguns momentos do passado, quando, por pouco tempo, ali ficava estabelecendo um diálogo sempre amigável com a natureza. Porém, desta vez senti falta de algumas árvores e de algumas pedras que com certeza não rolaram de água abaixo, mas foram depredadas com o consentimento de autoridades que não se incumbem de fiscalizar o que é nosso, mas tirando proveito de migalhas para seu bolso ou para tapar furos de administração duvidosa.

DEUS SALVE A NATUREZA DE NOSSA IPU, sempre pensando que ali existiu uma bela índia, a qual, certamente, não desejou que desmatassem um palmo, que removessem uma pedra, nem construíssem monumentos capazes de desestruturar o ambiente tão sagrado quanto o céu que nos cobre.

PARA PRIORIZAR O SENTIDO ECOLÓGICO de um município é preciso consciência e apego às coisas do lugar sem só pensar no seu próprio bem, tal aquele depositário que se sente acima de qualquer sentimento coletivo. O veredicto de tudo isto estar no entendimento da população que vê e sente todo dia o valor da preservação, como testemunha ocular. E por certo é quem se beneficiará da riqueza existente ali sem tirar, sem destruir, sem macular o meio ambiente tão sofrido com exploração imobiliária, venda de lenha para fornos e fogões e até madeira de lei para uso diverso e até duvidoso.

QUANDO DALI ME DESPEDI jurei não olhar para trás, mas fui traído pela curiosidade e conferi os traços e desenhos encravados no paredão de rocha, como pintura de uma civilização, que parecia dizer que ali não era para ser molestada, até que o fim dos tempos chegasse, para apagar e recomeçar uma nova natureza com novos povos se instalando e as belezas dimensionadas em prol dos futuros afortunados por ali habitar, desfrutando tanto quanto os que ali hoje habitam certos de que receberam aquilo e é daquilo que eles se beneficiarão para sobreviver.

MAS SE DEUS É BRASILEIRO, certamente percorreu as matas do Ipu e escreveu seu nome naquelas rochas, dedicando ao povo uma natureza bela e uma terra abençoada, habitada por um povo generoso e que ainda vai dizer muitas vezes: “meu Ipu de encantos por quem eu morro para sempre salvar”.

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Fonte: Do site da AFAI / Artigos – Crônicas / pág. 2
Acesso: 01/12/200

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