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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Estação - centenária

Data: 12/11/2009
Nome: Lourdes Mozart
E-mail: l.mozart@hotmail.com
Assunto: Estação Centenária


A ESTAÇÃO CENTENÁRIA
Ipu-Ceará (inaugurada em 10.10.1894)

Falar da estação é falar com o coração
é voltar ao tempo,
não qualquer tempo, de tanto,
mais que centenário.
È falar de gente e coisas
parte de sua longa história.
O telégrafo com seu código
levando e trazendo mensagens
aproximando pessoas,
encurtando distâncias

Estudantes vestidos,
com suas garbosas fardas,
iam e vinham de trem,
levando e deixando saudade
Sobralense, Cearense,
Colégio Militar e os de freiras,
era indiscutivelmente “status”
só para os de fino trato.

Quem não se lembra
do tradicional “kit” viagem
toalha no pescoço,
galinha caipira torrada
feito farofa, muito gostosa.
Do vagão restaurante
repleto de homens, de todas as idades
de muitas conversas.

Seu Carlito, Seu Isaías,
Seu Raimundo Craveiro,
José Cândido, João Bessa
Romãozinho, Lauro Magalhães.
Antes e depois deles muitos outros,
todos inseridos no contexto
da mesma história.

Esperar o trem chegar,
era sempre uma festa,
na calçada da minha casa,
bem em frente da estação,
ainda lá, hoje pensão.
Fileiras de cadeiras cativas,
uma rede de tucum na varanda
e uma mesa com café,
todo o povo parava
para ver o trem passar!

Por lá sentaram tantos,
que nem me lembro mais,
os que restaram na memória
dá licença, vou citar:
Auton e Félix Aragão
Sezinho, seu Lima, seu Janjão
Tiago Memória, Augusto Passos,
Seu Alfredo da pensão,
às vezes, Seu Bitião
Dr.Barroso, o velho Aderbal
o querido Chico Lão
menina corria com medo
pra ele não me beijar.

Por que na roda
não tinha mulher?
Seria discriminação?

Como tudo mudou,
nem trem existe mais,
quem hoje iria parar
para ver o trem passar?

Onde estão os humildes carreteiros
que tantas malas pesadas
em suas cabeças carregaram?
São muitas as interrogações.

Não restou ninguém, só a estação
vendida a um comerciante
pra virar loja de motos. Vejam só!
Hoje em ruínas, ao Patrimônio voltou,
amanhã cheia de vida, cheia de livros.
Que assim seja. Amém!

Ao largo ficavam três irmãs
Nenzinha, elegante, sempre de salto alto
Deolinda e Totonha,
e muitas crianças a brincar,
inclusive eu, a brincar e a sonhar.

Tinha um pé de oiticica
como o secular tamarineiro, morreu.
Frondoso, de sombras vastas.
era um ponto exclusivo
de mulheres sempre loiras,
arrumadas, decotes em profusão,
sombrinhas multi-coloridas
vindas das Pedrinhas, apelidadas por
“mulheres de vida livre”
não era pra ver a banda passar,
era pra ver o trem chegar.

Essa velha estação,
faz parte da minha história
e de quantas gerações
que nos trens viajaram
orgulho dos ipuenses
se não deixaram ser o que era,
que seja transformada
numa Casa do Saber.
Que assim seja! Amém.

Como estação seu epitáfio seria :

“Aqui jaz a memória e a saudade
de quantos partiram ou chegaram.”

Como biblioteca, uma placa na inauguração :

“Aqui começa um novo ciclo na vida dos ipuenses
que gostam e dos que precisam ser incentivados a ler”

Lourdes Mozart

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