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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Crônica de Olívio Martins: FRAGMENTOS DO PASSADO

Data: 12/09/2010
Nome: Olívio Martins de Souza Torres
E-mail: oliviomst@yahoo.com.br
Assunto: CRÔNICA

FRAGMENTOS DO PASSADO
Na minha infância, Ipu era muito arborizada. Predominavam, nas avenidas e nas ruas, os fícus-benjamins e as mongubeiras . Na frente de nossa casa, na Rua Padre Correa, conhecida também como Rua da Itália, havia uma frondosa mongubeira, sob cuja sombra os burros e jumentos que formavam os comboios de meu pai e de meu avô descansavam para a longa e cansativa jornada de subir a serra. Seus galhos amigos também abrigavam pássaros que, com seus cantos maviosos, formando uma sinfonia, anunciavam cedinho o nascer do dia e, ao cair da tarde, na hora do ângelus - quando os sinos da Igreja Matriz convocavam os fiéis para as ave-marias - se recolhiam em seu refúgio seguro.
Vez por outra, cheguei a perfazer o itinerário desses comboios em direção à Serra Grande. Logo no Alto dos Quatorze, ouvia-se ao longe o sibilar das macacas vibradas pelos comboieiros para estimular as alimárias na penosa jornada que se iniciava serra acima.
Passando pelo Boqueirão, logo após o Presídio, à esquerda, onde havia uns lajedos e uma bodega, começava, realmente, a parte difícil do percurso que culminava, mais adiante, com uma trilha íngreme e estreita em que os animais caminhavam em fila indiana, tendo à direita um precipício de causar medo, tal sua profundidade.
Vencida essa difícil etapa, chegava-se, enfim, a um caminho sem declives, plano, ensombrado de altas e centenárias árvores, cuja sombra trazia alívio para todos, homens e animais. O local era o Sítio do Meio, de propriedade de meu avô, cortado por um riacho que margeava a estrada. Pouco adiante, continuando pela estrada ensombrada, onde os ramos das árvores acariciavam nossos rostos e mãos, chegava-se ao Sítio Corrente, onde o riacho cortava a estrada que era formada, então, de um grande lajedo. Era uma pausa para os animais beberem água e a gente lavar o rosto e os pés. Era, enfim, o coroamento de uma empreitada homérica.
Logo depois do Corrente, atingia-se o planalto e mais dois quilômetros adiante chegávamos ao Sítio Lagoa Velha, linha de chegada, onde meus avós estavam passando o verão, época de moagem da cana- de- açúcar.
Fortaleza, 12 de setembro de 2010

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