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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Matadouro - inaugurado em 21/04/1935

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via blog do prof. CHICO MELLO

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ALOCUÇÃO PROFERIDA NA INAUGURAÇÃO DO MATADOURO, EM 21/4/1935
MEUS SENHORES:
“Mais melhoramentos iniciados e concluídos na minha administração, venho entregar ao distinto povo ipuense”.
Si bem que para muitos tenha sido o regime discricionário do Brasil considerado época de prepotência, nestes últimos quatro anos, para mim julgo um período de construção e atividades.
Não há quem volvendo o olhar para os dias que precederam a Revolução queira ocultar a paralisia enervante nas administrações públicas. A preocupação política dos gestores controlando o poder e conspurcando os direitos alheios, esquecia o bem coletivo. Uma estagnação criminosa, a falta de interesse pelas causas do povo, era o que víamos no velho regime.
Outro tanto não aconteceu quando raiou a aurora de 1930, com o triunfo outobrino. Aprecie o movimento de iniciativas e realizações, o critério presidido na ordem administrativa e dizei-me si o que afirmo descansa em base desdobrada comprovação. Examinai, para exemplo, o Ceará, onde mais do que em qualquer outra parte parece que predominava o descaso pelos negócios públicos, na atuação da degradante politicagem.
Penetrai nos seus municípios e encontrareis em todos, um raio de esforço em prol da coletividade. Pelo menos, em grande parte, foi substituída a imposição absurda do chefete pela tranqüilidade e distribuição de justiça, pelos empreendimentos e pelas direções construtoras.
Talvez seja eu considerado imodesto vindo narrar fatos e fazer a apologia dos acontecimentos que enobrecem e empolgam o período revolucionário. Mas, se me atrevo a tanto, não é no intuito de me louvaminhar, porem somente para ilustrar positivamente a razão de minhas asseverativas.
E quando assim me expresso não devo ocultar também que este período áureo, de progresso raro, vai declinando consideravelmente e se obrundando dentro do mesmo ambiente de erros, confusões e descrédito em que jazíamos antes da derrubada de 1930.
Entrou o País na sua constitucionalização e logo vemos a volta dos politiqueiros, numa avançada de lobos, a querer dominar as posições e abocanhar o poder. Nos partidos se aglomeram os mesmos elementos que formavam ontem a muralha vergonhosa que provocou a Revolução. Famintos e saudosos dos dias em que enfeixavam o mando faziam da coisa pública uma feitoria e adotavam a política a seu talante, apressaram-se para as reivindicações.
As eleições do ano passado foram o atestado da corrida infrene, da ância de subir, e para isso se puseram em prática os degradantes expedientes de antanho. Estados, como o nosso, ainda vive-se momentos de apreensões, aguardando o resultado de um pleito em que se procuram usurpar direitos adquiridos.
Pará, Alagoas, Espírito Santo, ainda experimentam as conseqüências tristes, resultantes dos abusos cometidos em torno das eleições. É o regresso do Brasil aos velhos processos. É a desilusão dos que se bateram pelos dias de ordem e sonhavam com uma Pátria Grande. Melhoramos por algum tempo, e regredimos à situação de inferioridade e velharias.
Tomando o assunto principal desta sessão, cabe-me vos capacitar da forma como foi conseguida a construção do Matadouro ora inaugurado.
Atentando o intento de sua edificação desde o início de minha gestão, em novembro de 1934 começaram-se os trabalhos. Vendo que as rendas da municipalidade não davam para os serviços, apelei para o Exmo. Interventor Felipe Moreira Lima, que bondosamente me concedeu o auxílio de sete contos de réis (7:000$000). Foram gastos na construção 9:363$000, podendo ser computado o seu valor total incluindo o do terreno, então já pertencente à Prefeitura, em... 10:000$000, por quanto passará a figurar no patrimônio do município. Conquanto não fique o Ipu dotado de um Curro modelar, todavia, já poderemos fizer que temos o ventre da cidade descongestionado da latada tosca e antiquada que nesta Praça recebia falso nome de Matadouro.
Começará o seu funcionamento oficial a 1º de maio próximo, para o que se acha devidamente regulamentado pelo decreto nº 106, que será enviado aos Srs. Marchantes. Com a introdução deste melhoramento eleva-se o patrimônio da Prefeitura de Ipu, que me foi entregue no valor de 651$280 à cerca de sessenta contos, prova inconcussa de que não foram tão úteis os dias da administração, que sob a minha direção, chegaram ao seu término.
Ao Sr. Interventor Federal cabe grande parcela de agradecimentos de nossa parte nesta inauguração, em virtude do auxílio valioso com que nos dadivou.
Para terminar, aproveito esta reunião para externar ao povo de minha terra os meus agradecimentos imorredouros pela cooperação que me prestou no pouco que procurei realizar no período administrativo que dentro de poucos dias será encerrado. A par da coluna dos descontentes e das mãos que durante o longo período de quatro anos e meio lutaram doidamente contra os meus atos, vendo em mim, por ventura um inimigo da terra que me sérvio de berço. – contei com a maioria sadia e forte dos meus patrícios, a qual constitui o meu esteio nas realizações legadas ao bem comum, e com ela contarei sempre para não permitirmos que venha essa gleba querida cair novamente nas mãos dos títeres da politicagem que nos aviltou por longos anos.
Congratulando-me com o povo ipuense pelo justo acontecimento que deu motivo a esta sessão solene, formulo votos para que os meus sucessores trabalhem pelo seu constante progresso, pela sua felicidade moral e social, ao diapasão do direito e da justiça, da ordem e da paz”.

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