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terça-feira, 9 de março de 2010

Cordel internético - Júlio Tôrres e Tatais

Cordel via Internet
REENCONTRO DO IPU – JANEIRO DE 2005
Júlio Tôrres e Tatais - via Internet

01 — Tatais – 02/01/2005
Num posso ir este ano
pro reincronto do Ipu,
cumpade Abilho vai tu
leva o Xico Parnaibano.
Atrapaiou-se o meu plano,
meu fiio tá se formano
dia 15 de janeiro,
é balhe, é festa, é retrato,
num tá aqui fica chato,
ninguém tem dois paradeiro.

02 — Júlio Tôrres – 03/01/2005
Ninguém tem dois paradeiro.
Num tá lá também é chato.
Lá também vai tê retrato,
Baile e festa o dia inteiro.
Tá tudo se renovano,
Um novo Ipu se formano,
Nova administração chegano...
Parnaibano vai por tu,
Mas, pro encontro do Ipu,
Tu tem que ir para o ano.

03 — Tatais – 03/01/2005
Só Deus tem dois paradeiro,
quem quer tombém come cru,
em Fortaleza e no Ipu
correr nos dois qué dinheiro,
já trabaiêi dia inteiro
mode ficá discansano,
mais só entrei pulo cano,
vendo pur pombo urubu,
num sô o Parnaibano,
ladrão qui nem guabiru.

04 — Júlio Tôrres – 03/01/2005
Ladrão qui nem guabiru
Tu diz qui é o Parnaibano.
Comprô dele um urubu
Pensano num pombo, mano?
Si tu ficá discansano,
Vai acabá sem dinheiro.
Vai trabaiá cumpanheiro,
Em Fortaleza e no Ipu,
Pois, si não, vai cumê cru.
Só Deus tem dois paradeiro!

05 — Tatais – 04/01/2005
Quonde eu brigo deixo aceiro,
espojeiro prá jumento,
quonde brigo sou nojento,
fico em pé por derradeiro,
só Deus faz meu paradeiro,
pois sou que nem caititu,
viro os óio fico azul,
bato em tudo que é Mocó,
ranco as tripa e dou um nó,
derribo inté belzebu.

06 — Júlio Tôrres – 05/01/2005
Belzebu já é caído
Derna do tempo de Adão,
Precisa derribá não,
Pois já tá muito sofrido
Derna qui Adão foi traído.
Se Deus faz teu paradeiro,
Cresce mais, meu cumpanheiro,
Qui espojeiro prá jumento
É pequeno e é nojento,
Num chega nem sê aceiro.

07 — Tatais – 05/01/2005
Quonde os diabo tá no acero,
se espojano inguau jumento,
cuide o mundo que o nojento
sispaiô no mundo intero,
deu dez pulo em Pisferrêro,
cem pinote só no Ipu,
mil e quato em Cratiú,
num tem medo nem de reza,
tá bem vivo o Belzebu,
entre o Ipu e Fortaleza.

08 — Júlio Tôrres – 06/01/2005
Tô bem longe do Ipu,
E tombém do Pisferrêro,
Tô no Rio de Janêro,
Pur aqui tá tudo azu.
Tá quente qui só no inferno,
Tumara qui tenha inverno...
Como diz a minha mami:
Noé foi qui teve sorte,
Livrou a famía da morte
Na maió das Tisunami.

09 — Tatais – 06/01/2005
Tu fugiu pro Ridjanêro?
Cuma pode tá no Ipu?
Pois disprega o mucumbu,
hoje já é seis de janeiro!
Corre, Zé, e vem ligêro,
dia 15 é o festão,
20 é de São Sebastião,
mais já sabdo é dia do Frade,
tô morreno de vontade,
mais num posso, num vô não.

10 — Júlio Tôrres – 07/01/2005
Eu só num vô pá do Frade,
É impussíve, num vai dá,
Mais mandei uma poesia
Pro Duminguin Musicá.
Pode avisá prá negrada,
Dia 15 tô na latada
Preparada pro festão,
Tô longe, mais sô nojento,
Num ando mais de jumento,
Ando, agora, é de avião.

11 — Tatais – 08/01/2005
Qui tu anda de avião!?
Tu te assombra inté cum bonde,
tu correu de medo quonde
viu o bicho inda no chão.
Tu anda de caminhão
ou no lombo de jumento,
tu sente inté abafamento
com zoada de chucai.
Se tu num qué ir num vai,
mas num tem discurpamento.

12 — Júlio Tôrres – 08/01/2005
Num tô cum discurpamento.
Tu é qui dixe qui num vai,
Bebeu água de chucai,
Pur isso qui fala ao vento.
Só andei de caminhão,
No carro do Cachorrão,
Quonde ia prá Tianguá,
A estrada era um serrote,
O bicho dava pinote,
E o fri era de lascá...

13 — Tatais – 08/01/2005
Pois frii mermo tu sintiu
quonde viu um avião,
tando o bicho inda no chão,
num istrondo tu sumiu
da bulé do Cachorrão,
siapiano em Tianguá,
tu car morre de chorar,
siscondeu na camarinha,
num largava de clamar:
- Ai mãmãe, dona Luizinha!

14 — Júlio Tôrres – 09/01/2005
Ai mãmãe, Dona Luizinha,
Eu num dixe neinhua vez,
Mais tu dixe mais de três:
- Ai papai, ai seu Caninha!
Tu quaij morre de chorá,
Não somente em Tianguá,
Mais tombém em Ipuarana.
Chorava feito cabrito,
Chupava três pirulito,
Inxia a cara de cana.

15 — Tatais – 09/01/2005
Bebo, mais é vin de missa,
apreceio pouca cana,
só sô pobe, mas bacana,
sempre acordo cum priguiça,
acho os povo uma mundiça,
num dô bola às fulerage,
mais tombém tenho corage
de levá tu na cacunda:
de aroprano, na segunda,
nóis dois vúa lá prá Vage.

16 — Júlio Tôrres – 10/01/2005
Prá Vage eu já fui a pé
Pur uma iscada na Bica,
Coisa qui só se isplica
Pur causa duma muié,
A gente cria corage,
Nem liga prá's fulerage,
Prá nada sente priguiça,
Só faz coisa de bacana,
Bebe... leite, chupa... cana,
E pede perdão na missa.

17 — Tatais – 10/01/2005
Tombém já subi a escada,
mas sem um pingo de medo,
cumecei era bem cedo,
a bem dizê madrugada,
levava três namorada,
cada uma se tremendo,
- Seu Tatais, tô aqui me vendo,
parece inté dor do parto!
Trepei duas lá pro arto,
a ôta garrei descendo.

18 — Júlio Tôrres – 11/01/2005
Acho qui mentes demais...
Cuma é qui u'a namorada,
Bem cedin da madrugada,
Te chama de Seu Tatais?
Cadê as intimidade?
Ou é pur causa da idade,
Qui elas te chamam assim?
Nesta manhã tão escura,
Nem lambeste a rapadura,
Nem alisaste o capim!

19 — Tatais – 11/01/2005
Capim de pranta alisei,
isprimi a tanajura,
lambi toda a rapadura,
a manga rosa chupei,
fiz tudo cunforme a lei,
fiz bem do jeito qui eu faço,
prindi o pé com meu braço,
e o ôto cum braço dela,
ia pegando a donzela,
mas de repente acordei.

20 — Júlio Tôrres – 12/01/2005
Eu logo vi qui era um sonho...
Pur qui tu só come agora
É mingau de caçalora, Num é mermo, Seu Antonho?
Tu deve tá cum saudade
Dos tempo da mocidade,
Tu saía de calção,
Para a Bica tu curria,
Pra fazê istripulia,
Xupá manga no Gangão.

21 — Tatais – 12/01/2005
Vêi do Rio a Fortaleza?
Teu jumento é de com força,
mas em riba duma moça
o seu dono é sem defesa,
hoje em dia quer na mesa
só papinha de feijão,
calambréa as duas mão,
no espogêro deita e rola,
véve só de camisola,
se obrando pulo chão.

22 — Júlio Tôrres – 13/01/2005
Se obrando pulo chão,
Tá é você, Seu Tatais,
Já nem alevanta mais,
Nem alcança mais cum a mão.
Ta munto grande a barriga...
Toneladas de lumbriga
Fazem festa o dia inteiro,
Se mela feito criança
Pois a mão já não alcança
Para limpar o traseiro.

23 — Tatais – 13/01/2005
Limpo as coisas só cum vento
do tzunami que produzo
e que escorre em parafuso
desna a Terra ao firmamento,
as lumbriga adonde eu sento
fazem festa o dia inteiro,
tão cheiroso anda meu cheiro,
pois cebola nunca eu uso,
cabra assim cumo és de intruso,
sou mais eu no galinheiro!

24 — Júlio Tôrres – 13/01/2005
Eu já tô saindo agora
Prá viajá pro Ipu,
Eu peço licença a tu.
Prá lê isto lá na hora,
Prá mostrá pros conterranho
Qui dois cabra dest´amanho
Ninguém sigura, dotô.
Nóis semo bom da caxola,
Nóis só num tem duas viola,
Mais nóis é dois cantadô.

25 — Tatais – 13/01/2005
Somo iguá dois camelô,
Vende pur pombo urubu,
Boizim comum pur zebu,
Biscate pur professo,
Chofé Cuma aviado,
Viúva acuma donzela,
Cocho de pau pur panela,
Relaxo pur cantoria.
Se alguém gostar da poesia,
Traga dez conto pur ela.

25 — Júlio Tôrres – 15/01/2005
Dez conto é muito poço,
Devia fazê um leilão.
Mais quem quizé dá cinqüenta,
Ponha aqui na minha mão,
Prá salvá a Igrejinha,
Cuma quer o Timbozão.

afai-artigos-poesia p.10

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