A história de um povo também é feita de minudências afetivas e verdades comezinhas.

[ Portal do "AS" - esprema AQUI ]

A CADA MEIA HORA UM PENSAMENTO DI RENTE
>

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

AFAILCA Crônicas - 35

Data:23/11/2009
Nome:JOSÉ AIRTON PEREIRA SOARES
E-mail:airton.soares.as@gmail.com
Assunto:AFAILCA Crônicas - 35

MINHA DOCE INFÂNCIA - SOBREVIVI

Por Ricardo Martins Aragão
- - - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - janeiro 2007


O AMIGO JÚLIO GOMES MARTINS, ipuense residente em Brasília, me enviou uma apresentação de slide com temas dos anos 60, 70 e 80, questionando sobre como sobrevivemos a eles.

CONFESSO QUE FIQUEI EMOCIONADO e saudoso dos meus bons tempos de criança aqui no Ipu, mais precisamente no local onde ainda moro, no Sítio Lagoa, pra bandas do Bairro Escondido.

COMO A SAUDADE E A EMOÇÃO nos inspiram, resolvi relatar algumas travessuras que fazia.

PRA COMEÇO DE HISTÓRIA, eu e meus irmãos, andávamos na maioria das vezes a pés ou de bicicleta pra quase tudo: levar recados, ir à missa das nove aos domingos, comprar coisas na rua, ir à aula, etc.

QUANDO VOLTÁVAMOS DA ESCOLA, utilizávamos batentes, calçadas, morrinhos e outros obstáculos pra praticar o BICICROSS, inclusive sobre as linhas do trem (aquela calçadona da estação me fez cair diversas vezes, tive sorte em não tacar a cabeça nos trilhos!).

CHEGÁVAMOS (MEU IRMÃO ANDRÉ E EU) em casa lá pra 11 horas e, acreditem, íamos direto pro riacho, o Ipuçaba (que passa no quintal de nossa casa), tomar banho e comer aquelas saborosas frutas nativas de nosso sítio: manga, azeitona, ingá, pitomba, goiaba, até cana-de-açucar... tudo “pegando fogo”! Só depois íamos almoçar, pois a mamãe já estava gritando por nós e brigando por não termos passado antes em casa pra tirar a farda e deixar a pasta com os cadernos (não raro, sujávamos tudo).

DEPOIS DA BÓIA, ÍAMOS (DE NOVO) pra dentro do sítio fazer traquinagens. Geralmente se entalar com azeitonas até a língua ficar roxa. Detalhe: em cima das árvores, muitas vezes em galhos finíssimos (sorte nossa, éramos magros e maneiros - ô saudade!). Uma queda dali seria fatal, mas o papai do céu tava olhando, como também olhava por nós quando declarávamos “guerra” às abelhas pra comer seu mel. Isso mesmo! Derrubávamos as “cachotas” ou “inchuís” (como nós chamávamos as colméias) daquelas pequenas abelhas também conhecidas por “boca torta”. Levávamos inúmeras ferroadas, mas saia barato, pois valia a pena atolar a cara naqueles favos de mel dulcíssimos. Na hora da cede, o Ipuçaba resolvia o problema. Como foi doce, minha infância!

- - - - - - - - - - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - -
OUTRA MOLECAGEM TÍPICA DAQUELES BONS TEMPOS
era mergulhar em cacimbões (imagine o perigo!)
e os memoráveis banhos nas barragens do riacho.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

QUASE SEMPRE DESCÍAMOS RIACHO ABAIXO DESDE A LAGOA até o Bairro Escondido (não havia cercas dividindo as propriedades, pelo menos sobre o riacho, pois as enchentes levavam todas).

CHEGÁVAMOS EM CASA MUITAS VEZES À NOITE, inobstante os chamamentos da mamãe pra fazermos as tarefas do colégio. Geralmente tinha um castigozinho de leve (palmadas ou chineladas na bunda... passava logo).

DEPOIS DAS TAREFAS (AVE MARIA... FALTAVA POUCO NÃO ACABAR MAIS!), a palavra de ordem era: BRINCAR! Até dá sono!

JUNTÁVAMOS A GAROTADA DE NOSSO BAIRRO LAGOA (eu, Andrezão, das Chagas, Pinheiro, Teixeirinha, Zé Arteiro, Bezeca, Carlos da Dôra, Chico Manguita, Pinta Silgo, André do seu Luis, entre outros moleques) e íamos fazer malinação, como dizia minha vozinha Nana (ô minino malino!).

AS BRINCADEIRAS PREFERIDAS ERAM: fedora, esconde-esconde, carimba, estátua, caiu no poço (pra dar beijos nas garotas), entre outras. Mas, as que a gente mais gostava de fazer, talvez pela natureza sádica da brincadeira, era se esconder nas moitas na beira da estrada (naquele tempo, não tinha calçamento no rumo da Lagoa, só estrada de barro mesmo) e assustar as pessoas que vinham da novena, muitas vezes fazíamos uso dos chocalhos das vacas do papai. Imagine o susto que o povo tomava quando aquela ruma de menino saia de dentro do mato tocando chocalhos e gritando... era um corre-corre danado! Morríamos de rir! Mas às vezes levávamos carreira também de algum adulto enraivecido pelo susto, alguns deles riscando faca no chão. Saímos “tacando o pé da bunda”, sem olhar pra trás, sem a menor noção de perigo.

CHEGAVA A HORA DE DORMIR. Deixávamos as brincadeiras com aquele sentimento de estar perdendo algo muito importante, como se não houvesse amanhã. Muitas vezes relutávamos em ficar, mais tínhamos que obedecer às ordens de nossos pais que, quase sempre, tinham que gritar por nós, pois não sabiam onde estávamos. Não havia o tal do celular. Felizmente!

DE MANHÃ BEM CEDO... acorda pra tomar gagau! Com o zói chei de remela, íamos pro curral, atolar os pés descalços na bosta do gado, tudo pra saborear aquele espumoso LEITE MUGIDO, tirado direto dos peitos das vacas (Boneca, Estrela, Carinhosa, Coca-cola, Mulatim, Coração, Barra Branca, entre outras). O leite mugido servia pra revigorar nossas forças pra começarmos um novo dia de muita aventura.

NÃO TÍNHAMOS PLAYSTATION, X-BOX, NITENDO, no máximo um Atari de um primo da capital que vinha passar férias conosco. Nosso compromisso com a tecnologia era, aqui e acolá, um desenho animado na TV em preto e branco (Pepe Legal e Babalu, Polícia Desmontada, Zé Colméia e Catatau, Bibo Pai e Bobe Filho, Pica-pau, etc).

MAS, MESMO DIANTE DE TODA INFORMATIZAÇÃO e facilidades inerentes ao avanço tecnológico de hoje, não há um dia em minha vida sem essas boas recordações e saudades dos maravilhosos tempos de minha infância, da qual consegui sobreviver. Acreditem!
- - - - - - - -

Fonte: Do site da AFAI / Artigos – Crônicas / pág. 4
Acesso: 23/11/2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário