A história de um povo também é feita de minudências afetivas e verdades comezinhas.

[ Portal do "AS" - esprema AQUI ]

A CADA MEIA HORA UM PENSAMENTO DI RENTE
>

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Feiras de sábado do Ipu

Data: 21/06/2009
Nome: Antônio Otávio Aragão e Melo
E-mail: antoniootavioaragao@yahoo.com.br
Assunto: Feiras de sábado do Ipu

Caros(s) Internautas,

É realmente magistral a crônica do Boris reprisada neste site há poucos dias, acerca das feiras de sábado do Ipu, nos anos 60 e 70. É uma discrição tão rica em detalhes que só é possível fazê-la alguém do calibre do autor, que tinha um senso de observação aguçado e um profundo conhecimento dos costumes da cidade, à época.

Eu que tive o privilégio de morar no Ipu em duas ocasiões, a primeira delas na década de 70, vivenciei parte dessa época,, e posso dizer como o autor foi fiel na narrativa e como são eloquentes muitas das palavras e expressões ali utilizadas: a saída do caboclo de casa nas primeiras horas da madrugada, quando o galo cantava; o sinal da cruz na partida; o chapéu para proteção do sereno da madragada e contra o sol escaldante no retorno, as alpecartas de couro; os cabras tangendo os animais com cargas; o bate papo pelo caminho; a lavagem dos pés nos riachos na estrada; o barulho da multidão entrando na cidade por todos os lados; o amanhecer com as mungubeiras cheias de animais amarrados; a mulltidão aglomerada ao redor do mercado, discutindo negócios, batendo papo, encontrando os compadres, num vai e vem frenético que se prolongava até o meio dia quando pouco a pouco se dispersavam; os retardatários que bebiam além da conta e acabavam indo parar lá na curva da entrada, no xilindró, etc.

As feiras de sábado no Ipu eram uma verdadeira confraternização. Ali as pessoas das mais diversas classes sociais se misturavam com a multidão e conversavam amigavèlmente sobre os mais variados assuntos. Puxando pela mente, posso recordar de várias delas no meio daquele ruge-ruge: Abdias Martins, Antônio Olimpio, Antônio Ximenes, Célio Marrocos, Dião, Elias Mororó, Dr. Evangelista, Flávio Mororó, Iracema, Iran Rocha, João de Deus,Luizão, Luiz Quinze, Pita Melo, Raimundo Salú, Teixeira, Vladimir Mourão, Véi Domingos, Vicente Rocha e outros mais. Da calçada do comércio do Caça Samba, correndo a vista na direção da bodega do Antenor Balacó, me lembro que era possível observar um grupo numa animada conversa: Antônio Tavares, Antônio José, Arnaldo, Bertim, Boriz, David Costa, Fernando Fontenele, Helder Rocha, Luiz Aragão, Marcos Baú, Zé Cesar, Rato, Véi Milton e outros mais.

Naquela ocasião, não passavam despercebidas as mocinhas da roça que também vinham para o evento e ficavam naquele vai e vem ao redor do mercado. Comentava-se que elas só careciam de um banho de loja para se igualarem, em beleza, as moças da cidade. Nunca concordei com este pensamento.

No Ipu, naquela época, existia um punhado de moças tão belas que se o romancista José de Alencar se levantasse do túmulo e fosse escolher uma delas para representar a Iracema em sua obra, certamente teria dificuldades!

As mulheres da vida também tinham seu momento de glória na feira, e ao passarem em grupos, rápidas e assustadas, atraíam sobremaneira a atenção dos homens, principalmente quando entre elas havia alguma novata.

Recordo-me nitidamente de que as vezes a polícia circulava no pedaço dando busca de arma nos caboclos, mas inexplicavélmente errava o alvo, pois nunca abordava ium Amadeu Feitosa, um Luiz Malaquias, um Marconi Paz, um Osório Rufino, homens tidos como arrojados e sobre os quais se comentava, a meia voz, não faltarem com um 38 na cintura!

Este era o sábado de feira no Ipu dos anos 60 /70, tão bem retratado ma crônica do ATA. Pena que o autor partiu tão prematuramente e levado consigo, além de alguns valores humanos invejáveis, uma mente tão prodigiosa!

Arrematando, espero que este meu singelo comentário não se esgote aqui, mas que sirva de inspiração ao Prof. Chico Melo, ao mestre Chico Parnaibano, ao Tatais e a outros mais, para externarem suas saudades e recordações de uma época um tanto longe no tempo, mas tão próspera daquela cidade de Ipu.

Um grande abraço a todos aqueles que tiverem a oportunidade de ler este comentário!

Nenhum comentário:

Postar um comentário