A história de um povo também é feita de minudências afetivas e verdades comezinhas.

[ Portal do "AS" - esprema AQUI ]

A CADA MEIA HORA UM PENSAMENTO DI RENTE
>

sexta-feira, 27 de março de 2009

O CIRCO EM IPU

Data: 27/03/2009
Nome: JOSÉ AIRTON PEREIRA SOARES
E-mail: airton.soares.as@gmail.com
Assunto: O CIRCO EM IPU

Por
Olívio Martins de Souza Torres

Recordar é viver, diz o adágio popular. Recordo-me ainda quando, na minha meninice, o circo chegava a Ipu. De início, eram os preparativos para sua instalação num terreno baldio que ficava entre a Rua Padre Correa (Rua da Itália) e a Rua Cel. Félix, bem próximo da casa em que minha família morava.

Era uma festa na cidade que fugia à sua rotina e vivia, naquele período, dias de felicidades irradiados pelo fantástico, feérico e mágico mundo do circo.

No circo tudo me despertava a atenção. Os trapezistas, com suas acrobacias, deixavam-me o coração batendo a mil. O palhaço, com suas roupas frouxas e cara pintada, divertia a criançada. Os animais – elefantes e macacos – também eram atrações.

Lembro-me dos nomes de alguns circos: Garcia, Nerino, Carrapicho.

Inolvidável também era a maneira de anunciar o espetáculo. O palhaço saía, à tarde, pelas ruas, com pernas de pau, ou montado num jumento de costas para a cabeça dele, acompanhado de um bando de meninos, estabelecendo com eles um diálogo assaz interessante e jocoso:

- Hoje tem espetáculo?

- Tem, sim, senhor!

- Às oito horas da noite?

- Tem, sim, senhor!

- Hoje tem marmelada?

- Tem, sim, senhor!

- Hoje tem arrelia?

- Tem, sim, senhor!

- Na casa da sua tia?

- Tem, sim, senhor!

- Alegria de pobre é um dia só!

- Um quilo de tripa e um mocotó!

- E o palhaço o que é?

- É ladrão de mulher!

Após essa última resposta, ouvia-se uma estrepitosa vaia por parte da garotada que acompanhava o palhaço na peregrinação pelas principais ruas da cidade e nos bairros mais próximos.

Confesso que tinha uma vontade enorme de integrar esse grupo de garotos que acompanhavam o palhaço, mas a sociedade da época não permitia isso. O tempora, o mores! ( Ó tempos, ó costumes! )

Terminada a passeata, os meninos eram marcados, com tinta óleo vermelha, na testa ou no braço, para que pudessem ser identificados, à noite, na entrada do circo para assistir ao espetáculo de graça. Era o prêmio deles por terem participado do anúncio do espetáculo.

O circo não divertia somente as crianças, mas também os adultos, homens e mulheres. Eram momentos felizes e divertidos que vivia a população. Logo depois de encerrada a temporada do circo, a cidade voltava à sua vida normal.

Fortaleza, 12/10/2006
- - - -
Fonte: AFAI Artigos Crônicas pág. 8.

Nenhum comentário:

Postar um comentário