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terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Tobias ganha prêmio na ACE

Data: 13/12/2009
Nome: Tobias Marques Sampaio
E-mail: tobsam@oi.com.br
Assunto: Concurso

Num breve concurso literário de crônicas e poesias de natal concorri e fiquei entre os dois no tema Crônicas.
Ei-la:

O Primeiro Natal

No início da década de sessenta eu dava um passo em direção desconhecida, saía do sítio e enfrentava uma cidade de ruas e avenidas com alguns caminhões conduzindo cargas pesadas, os automóveis quase não existiam e muita gente circulando para lá e para cá.
Muitas casas aglomeradas, o comércio concentrado em um único local, o velho mercado de carne, legumes e as lojas de tecido, cujos donos eram latifundiários ou tinham belas casas com mármore na entrada e um arco na porta da frente com um jarro de planta colorida, regada todo dia pela madame que não fazia outra coisa. A casa toda tinha piso de mosaico colorido.
O ano passava e nossa casa com cheiro de mofo recebia algumas cadeiras novas, uma cama de colchão de mola, mas as redes eram nossas dormidas num quarto apertado, onde todos nós meninos dormíamos e a conversa ia até tarde.
Minha irmã mais velha, uma espécie de chefe da turma, ia aos poucos nos controlando e ai de quem a desobedecesse. Durante as férias de junho voltávamos para o sítio, retornando um mês depois às aulas mais conscientes de que nosso pai estava se sacrificando para nos ensinar o b- a-bá da vida e quase todos aprendiam a lição direitinho. Os costumes da cidade também nos tornavam criaturas civilizadas, embora ainda não fosse tão adiantado o município de Guaraciaba em cima da Serra da Ibiapaba. No inicio do quarto trimestre já eram muitos os comentários sobre o próximo natal e eu já havia ouvido falar nisto, num tal de papai Noel e confundia ele com meu pai e com Deus, quem meu pai muito elogiava e ensinava-nos suas orações.
Uma revista de circulação nacional da época trazia alguns comentários a cerca das festas de final de ano e cada vez complicava mais aquele monte de coisa ao mesmo tempo. Já bem perto do dia vinte e cinco a movimentação aumentava e minha irmã saía até uma lojinha para comprar novidades e vinha com uma sacola, a qual minha mãe havia bordado em casa mesmo, cheia de coisas e não deixava que ninguém a visse aberta. Eram coisas simples, guardada a sete chaves, prometendo que antes do fim do ano todos saberíamos o que eram. Deixava-nos, os menores, curiosos, mas meu pai havia ensinado que coisa daquele tipo era para ser respeitada, então aqueles quatro ou cinco dias eram para ser esquecidos e no dia vinte e cinco pela manhã encontrávamos sob as redes quase arrastando no chão pequenos objetos e era curioso descobrir como chegaram ali. As meninas haviam recebido bonecas e nós os meninos, em maior número, bolas de borracha e de sopro bem coloridas. Foi uma festa ao saber que eram trazidas por papai Noel.
Mas quem era esse Papai Noel? E por que ele não havia trazido presentes também para aquelas crianças mais pobres, moradoras nas casas de nossas terras?
Eram muitas perguntas sem respostas e a certeza de que o natal existia a partir daquela noite com direito a presente e um peru que minha mãe engordava há dois meses para comer oportunamente, dizia ela.
Tudo fantasia de natal, uma festa onde o nascimento de Jesus Cristo é o foco, muitas vezes esquecido por quem só quer se divertir.

Tobias Marques Sampaio

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